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Mostrando postagens de 2011

Show de horrores

Tenho andado por aqui já não é de hoje Sempre me trazem de volta e de volta a qualquer lugar... Ao mesmo lugar Comprimo toda a extensão destes anos, dessa infinitude num pequeno invólucro A partir daí a consciência segue a se esquecer, a tornar-se gradativamente medíocre e pequena Apegada e presa, atada a valores e ilusões, venho mentindo estar tudo bem desde então Tapo os olhos para não ver o horror, tenho medo, não posso abri-los e encarar meu próprio rosto Temo as respostas às perguntas que faço, então me mantenho na superfície, adio a descida até as profundezas deste oceano desconhecido Estou sempre ponderando se vou mesmo fundo na verdadeira natureza da consciência a mover este veículo carnal perdido em sua pequenez Descobrir, buscar, aquilo que no fundo já sei, mas escondo para não perder o controle No silêncio profundo desta consciência infinita um aviso emerge de tempos em tempos: Não há como escapar, nem se esconder, você sabe! Este hospício de caminho

Não conte comigo

Certo dia disse como todo e qualquer mortal: “Conto com todos”, “Conto contigo”, “Conte comigo”. O que mais de tantas ilusões eu disse? Não conte mais... Não conte comigo, nem com todos. Não conte mais... Quando de todas as ilusões, uma sequer tenha valido realmente a pena, não me conte nem comigo conte. Por um acaso contastes mesmo consigo, com quem quer que seja, sem que lhe postasse uma bela dose de cobrança, acrescido de certa desconfiança, expectativa e medo? Não conte comigo, não estou aqui para lhe oferecer segurança, estabilidade, previsibilidade, nem para amparar um peso que mal se sustenta de pé sobre suas próprias bases. Não, este não é um recado ou aviso pessoal, esta é uma realidade que se encaixa ao ser humano. Não é preciso segurança, nem estabilidade, não é preciso buscar eternamente tais ilusões de estado que a nada levam a não ser ao caos. Não é preciso depender, se apegar, agarra-se, como um desesperado que se afoga. Não há porque encontrar
Há algum tempo opero no limite. Até onde se estendem as fronteiras que me cercam, entre visão e cegueira, eminencia de emergir. Prestes a submergir de volta ao fundo, ao silêncio eterno dos oceanos calados, onde mal se propagam as ondas de som. Universo infinito a calar o caos insignificante das vidas que aqui se chocam para sobreviver. Certo dia chorei no caminho para casa, um retorno custoso, certa do cansaço. As lágrimas continham no sal amargo das águas que rolam, um sentido que se afasta dos dramas da vida, da teia de relacionamentos que nos envolvem e aprisionam nas mais obscuras tragédias. Um mundo de milhares de egrégoras, imensos cúmulos a escurecer, entristecer. Aos poucos a mente que insiste em reger meus movimentos, pensamentos, sentimentos, começa a desvelar o caminho linear e certo da vida, um novelo intrincado, labirinto confuso, um quebra-cabeças que jamais se encaixa. O filme retrocede ao passado e então começo aos poucos a desaparecer, apagar-me diante dos ev

Um dia...

Um dia... Um dia teremos isso e seremos aquilo e então seremos felizes... Um dia chegaremos lá... É sempre um dia, Um dia que não se sabe qual, porque nos parece longe Um dia que não é amanhã, nem depois, apenas um dia... Assim como estes três pontos no final das frases que parecem não querer terminar, ou que parecem querer dizer mais, sem ainda saber o que... Tudo fica em extenso, nada pousa, por isso nada do que um dia queremos que seja, podemos tocar. Não podemos tocar esta ilusão, mas podemos vivê-la e, por tanto querer que seja feita realidade, podemos por ela viver e lutar. Pela ilusão brindamos e torcemos para que um dia... você sabe... quem sabe um dia... Mas sabemos que a cada passo do tempo, um dia se torna cada vez mais distante, como se de nós quisesse escapar... Uma poeira no vento, uma fumaça na brisa, soprada cada vez mais para frente... Enquanto isso nós vamos ficando por aqui, sonhando eternamente com o dia em que um dia chegará para nós, ta

Revolução pessoal

Para promover a transformação, a renovação, a revolução, é preciso partir de si mesmo e não meramente de autores, manuais, ideais, opiniões alheias, filmes, professores, cursos, dentre tantos outros. A revolução começa internamente e a partir daí se expande para o mundo externo em consequência da transformação que já explodiu e inundou todo o seu ser que viu com seus próprios olhos a ilusão erguida diante de si como realidade. Não se trata de concordar ou discordar desta ou daquela posição, não estamos falando em posicionamento, estamos falando daquilo que é. Quando a transformação torna-se o próprio ser, sua consciência se desloca em direção ao caminho da revolução tornando irresistível a mudança a sua frente. Não se trata de fé cega, crer sem ter experimentado por si mesmo a implantação de uma nova consciência, não se trata de seguimentos nem de aceitação deste ou daquele dogma, colocações e posicionamentos, não há fé nem religião, existem apenas certezas quando visualizamo

Num mundo memória

Durmo e acordo tateando no escuro Num mundo de memórias, apagado e chateado Brumas cinzentas dos vestígios passados Um suspiro que morre no peito. Coração fraco e enterrado, soterrado de ilusões Desculpe-me a dureza e o peso de meus sentimentos A escureza de onde falo, a frieza dessa vida. Peço compreensão, ainda que não carregue o fardo de sentimentos tão tolos e inúteis. Como se preciso fosse pedir, já sabes... Me espere, sei que espera, me espera com paciência infinita e um dia hei de chegar e tocar sua mão. Por vezes vem e me abraça, quando me estendo até os limites do possível e eis um abraço... Abraço daqueles que fazem calar tudo ao redor e então deixo de ser apenas eu e sou então... Num mundo despedaçado e miserável como esse não nos resta nada além de memórias, como verdades absolutas, vontades resolutas. Aqui acessamos o amor, pequeno pedaço de amor, por meio da memória guardada, prisão do passado, então deixe-me transmitir um pouco, quase n

Me perguntaram quem sou, eu disse ninguém

No cais pousa uma alma noturna, eterna e diminuta frente aos dramas nos quais a mente mantem-se embebida. Uma consciência há milênios adormecida. Bêbada de ilusão. Atormentada de vícios. Confusa frente a grandeza superficial dos problemas que assolam incessantemente a vida humana. Quão ordinário é o homem que nós somos, de pé no cais. Um corpo movediço e mortiço, pendendo para cá e para lá, como um barco a deriva. Erguia ao redor uma tempestade macabra, trovões malfeitores, ventos fora da lei. A lei da vida e do universo de nada vale neste mundo de enganos. O mar estoura nervoso na praia dos atordoados. Nos braços carrega o medo, um medo primitivo, resgatado de eras remotas. Medo que constantemente se renova sobre novas faces, que se atualiza sempre e sempre em seu e nossos corações. Não é a noite nem o mar, e sim ele quem teme o desconhecido que somente nele e em nós habita e interminavelmente dura alimentado, mais e mais, na medida em que depara-s

Templo do infinito

Se eu me calar para ouvir o som O som que vibra de dentro De dentro do meu coração Não de um órgão, de sangue e carne De um lugar sutil, quase imperceptível a olhos desatentos Um lugar e som só meu Não há início de um lugar nem fim de um som, Sem que haja um no outro, confundindo-se em um só Só então comecei a entender verdadeiramente o jargão daqueles que se voltam um pouco mais para a espiritualidade: “Meu corpo, meu templo”. Volto os olhos para dentro de um templo infinito, ilimitado e destemido E nada posso ver além da verdade desconhecida, Sinto então minha alma se expandir para todos os lugares de uma só vez Cresço tanto que nem sei o quanto, perdendo aos poucos a dimensão do meu tamanho, sigo viajando na infinitude de meu ser e não há lugar onde queira estar além de em mim mesma Vou me achegando aos poucos a um universo jamais imaginado e então meu templo inunda-se de sensações milhares Sigo eternamente levantando voo em meio a pousos varia

Débito

Neste mundo assim que nascemos contraímos uma dívida. E conosco a dívida cresce, indefinidamente, inevitavelmente. E então somos ao longo de nossa existência preparados para pagar estas dívidas. Não tivemos a oportunidade de escolher se queremos ou não nos endividar, simplesmente somos forçados a pagar como condição inerente ao nosso ser. Um pagamento parcelado até o último suspiro de vida. Ingressamos na escola e somos aos poucos preparados para a vida, que se resume ao mercado de trabalho. Nos ensinam que é preciso trabalhar para que sejamos dignos, para que sejamos “alguém”. Aos poucos nos ensinam que não devemos confiar em qualquer um, nos ensinam que devemos ter cuidado com o mundo lá fora, nos ensinam a temer e com medo nos entregamos, nos ensinam que devemos ser fortes para suportar o peso da cruz que devemos carregar, devemos suportar as pressões com perseverança se quisermos vencer. Nos ensinam, portanto, a suportar a escravidão docilmente sem jamais question
O amanhã permanece em suspenso, porque hoje é o que importa para quem tempo infinito suporta. A ansiedade, quiçá uma dúvida estúpida sobre o querer ser, sobre o dia seguinte, um futuro limite legado aos iludidos. Uma só vida entre os temidos. A natureza mesma das imersões, fascínios e declínios. O começo de um eclipse, um sol que não nasce nem se põe. A casa está viva, eis que se move em rotação. Aos poucos, percepção. Ei-los mortos estagnados, corpos-mentes inertes. Encantados pelas novidades de um mundo que se arrasta e repete. Arrasta e repete. Arrasta e repete. Arrasta e repete. Ecoa eternamente em diferentes tons. Caranguejos a arranhar a superfície. Um mito, esperança irrealizável. A superfície deixo para os tolos.

Acorde

Hei... Acorde... Você está me ouvindo? Consegue me ouvir ai de onde está? Levante-se Vamos viajar para longe deste sonho ruim Vamos caminhar, seguir adiante, deixar tudo para trás Você consegue me ver? Consegue me ver de onde está? Apague as luzes, faz sol lá fora Você pode andar sozinho? Sem que seja necessário todas estas muletas? Acha que pode abrir os olhos? Pode acordar e se levantar? Foi tudo um sonho... Um sonho longo Um sonho ruim Agora é hora de se despedir É preciso despertar Já nos atrasamos demais Já nos estressamos demais Já estamos ricos demais ou pobres demais Estamos cansados demais Cansados de sonhar De acumular Agora queremos viver Estamos cheios de querer ser, sonhar ser, esperar ser Agora queremos apenas ser o que já somos Estamos fadados de querer ter, sonhar ter, esperar ter Agora vamos devolver, oferecer, manifestar A hora é agora, vamos nos levantar de nossos leitos amargos e egocêntricos Vam

A revolta desarmada dos tolos

De repente reinou o silêncio dentro do meu quarto, estava escuro só haviam as luzes externas da rua que invadiam as brechas das cortinas fechadas. Me perguntei que diabo de lugar é esse que vinha me perturbar o sono ou quem sabe não fosse essa força perversa que paira o tempo todo sobre todas as cabeças limítrofes que me quisesse sempre fazer dormir, dormir um sono tão profundo que nem que sacudissem ou tocassem sobre minha cabeça uma orquestra em La maior eu poderia sequer abrir os olhos em despertar. Me reviro de um lado para outro e reclamo: Não me façam descer ao ridículo mais uma vez! Ao medo zombeteiro e escrachado a que tanto se esforçam para nos acomodar dentro de caixas, prisões para vaga-lumes! Ah! De novo aquela palpitação, uma sensação de invasão, de novo, de novo e de novo, o mal estar se instalou novamente. Então comigo pensei: Lá vamos nós de novo... Eis os sintomas do mal que se alastrava pelo corpo e mente que não me deixam calar: Vertigem, seguida de um

Ai...

O que quer dizer essa pulsação? Esse tremor do corpo Esse sono profundo Suspiro moribundo O que são essas manchas na pele? Esses ferimentos pequenos Esse enjoo embolado Insonia noturna O que quer dizer esses dedos lascados? Essa erupção no rosto Esse vulcão prestes a explodir Lágrimas das veias Veneno... Venenos Vertendo... Um corpo embebido em verdades Ai que nojo me dá Ai que ânsia me dá Que mergulho profundo Ilusão corriqueira Nuvens a tapar o sol Ai! Não pode ser! Um ser sequer Um dia sequer Um querer se querer Não quero! Não posso querer! A menos que me venha prometer Um dia vir mesmo a morrer

Verão

Do verão faz- me beber Deste sol faz- me sofrer Sofrer Deter Reter Dos dias tórridos de domingo Das tardes tão estúpidas Limonadas geladas Estreito os olhos para engolir o horizonte Está tudo tão claro, oh meus olhos não veem Meu Deus que balburdia, que fizeram? Respiro Degelo Em meus sonhos, um naufrago Eu permito Permeio Delineio por sobre a superfície espessa e macia do tapete Rolo Revolvo a terra com meu corpo Verme a se esbaldar, dançar, nutrir Música Serpente esquiva Cresce e queima Paro. Decido. Não irei mais comer Não irei mais beber Paro. Penso. Pondero. Não quero mais prosseguir Afrouxo minhas mãos agarradas as suas e as deixo cair soltas no ar, até que se deitem suavemente em despedida sobre um perfil embaçado de quem aos poucos se afasta e perde devagar o foco. As portas se abrem Ventania, invasão Desfalece em esquecimento Deixe tocar até o final esta canção, deixe rolar até

A seriedade que não sou

Saudades das aventuras da infância Da espontaneidade adolescente Eu que nunca fui fiel escudeira das regras Nem nunca estive a par dos métodos O sistema foi aos poucos apagando a luz e Com os sopros das velas dos aniversários, Foi se extinguindo as chamas do meu coração Foi então que comecei a morrer, A sumir, A deixar e Hoje no espelho reflete a seriedade que não sou Não sou séria Tampouco levo a sério este mundo Nem me importo com o que a vida reserva No fundo sabemos o que será, Não é mágica, é óbvio É previsível e está tundo dentro dos esquemas do sistema Mas eu finjo que espero Finjo que não sei e que aceito Me calo, abaixo a cabeça e engulo E como todos, entro na fila para lugar nenhum.
Cenário Manchado Cortina Névoa Maresia que pousa e repousa sobre as calçadas de Copacabana Brisa do mar, chicote de veludo no rosto, acalma-me a cruz O peso dos prédios opostos ao mar, abaixo do céu Vai se pondo o sol, vão se acendendo os artifícios da noite Meus olhos distraídos, pousados sobre a maravilha das coisas Reduz o peso do fardo, da gravidade sobre os ombros, da seriedade da vida Alguns minutos de elasticidade, flexibilidade, irreverencia Não... Agora não é hora de dizer o que é nem o que deve ser feito Calem-se todos e ouçam o ruído de todas as coisas de agora Os acontecimentos se desenrolam eternamente em repetição De veracidade impossível, velocidade um princípio absoluto O que não cala nos passeios dos entardeceres e amanheceres é o desconforto que sinto diante deste mundo. Estou delirando, com febre, doente, desconexa Assumo compromissos, me alimento com saúde, por vezes deslizo, cuido das plantas, dos animais, ainda não há conforto. Há confronto de

Um encontro

Perder um amigo é uma dor sem igual Me lembro ter imaginado uma ausência perene, Sonhava uma dor suave, amainada pelo passar do tempo Foi-se aos poucos se dissolvendo uma imagem embrutecida pelas novidades Falta de juízo total, diamante secreto da exclusividade As lágrimas, notas tortas de um piano desafinado, puro desajeito das mãos estúpidas de um velho escritor Juramos eternidade sem nada dizer, Tamanha sinceridade não exige memória, Nada, um sentido guardado numa caixa de madeira Tudo, um sentimento descolado do tempo, da fama e do nome Renovado pedido, faz minh'alma te chamar mais para perto Aquece meu lar, tens outro nome, outra face, outra alma Mas se entre ambos um mundo, um abismo de diferenças, aqui entre particularidades, generalidades, vem pairando acima essa forma, esse sopro, vida a nos animar a todos, Não há de ser meramente humano esse som, essa força que nos move Há de ser tudo o que há Para fora e para dentro. Um encontro.

Desculpe-me

Desculpe-me não dizer Prometi ligar, mas não liguei Prometi voltar, mas não voltei Prometi escrever, mas não escrevi Destinos, promessas, esperanças firmadas em aparências Cumpro o silêncio que me deixa calar A expressão do desejo se reflete na presença desnecessária das palavras Desculpe-me não dizer. O não manifesto das palavras se insurge contra a oratória que prova Imputa ânimo naquele que escuta, vence ou convence. O que preciso eu dizer ao ego que me ouve Esclarecer, amanhecer sobre mim explicações imprecisas Há fenômenos sobre os quais prefiro nada dizer Há que se cumprir algo além de palavras Seja sorte, sina a sair do ventre, nascer do ovo A manar de si e inundar tudo o que há