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A revolta desarmada dos tolos



De repente reinou o silêncio dentro do meu quarto, estava escuro só haviam as luzes externas da rua que invadiam as brechas das cortinas fechadas. Me perguntei que diabo de lugar é esse que vinha me perturbar o sono ou quem sabe não fosse essa força perversa que paira o tempo todo sobre todas as cabeças limítrofes que me quisesse sempre fazer dormir, dormir um sono tão profundo que nem que sacudissem ou tocassem sobre minha cabeça uma orquestra em La maior eu poderia sequer abrir os olhos em despertar.

Me reviro de um lado para outro e reclamo: Não me façam descer ao ridículo mais uma vez! Ao medo zombeteiro e escrachado a que tanto se esforçam para nos acomodar dentro de caixas, prisões para vaga-lumes!

Ah! De novo aquela palpitação, uma sensação de invasão, de novo, de novo e de novo, o mal estar se instalou novamente. Então comigo pensei: Lá vamos nós de novo... Eis os sintomas do mal que se alastrava pelo corpo e mente que não me deixam calar: Vertigem, seguida de um medo imbecil.

Qualquer esforço para levantar-me parecia em vão, contra uma força implacável que me subjuga a um mundo feito de plástico descartável, mais sólido que aço. Eis que estala um pensamento implantado de fora: Ligue a TV e o mal estar se dissipa, a solidão se disfarça, a escuridão se esquiva em meio ao tubo azul de luz, o silêncio se apaga e eis que terás acordado novamente neste mundo a que tanto conheces.

Não! Não irei ligar a TV, cansei-me de ouvir os infinitos disparates, disparados deste aparelho que mais me parece o zunir de uma colmeia de abelhas homicidas. Já basta ter de aturar pela manhã a visão nefasta das intermináveis bancas de jornais vomitando pelo caminho uma diversidade estúpida de assuntos.

Continuam investindo com tanto desespero em minha distração que quase sinto pena deste sistema falido. Confesso que por vezes rio sozinha tal qual fazem os loucos. Nesta sala de detenção de segurança máxima, rio sozinha desta névoa de medo a qual somos subjugados, daqui não é possível enxergar mais nada.

Ahhh! Preciso rir deste conto de fadas! Zoar, zombar! Ah e como funciona, hein?! Me parece um relógio, de tão certo! É isso mesmo pessoal, por dentro estou rindo.
Estou rindo de vocês, rindo de mim, rindo de suas metas, de seus sonhos, de seus exemplos, de seus modelos...
Estou rindo de suas caras, destas máscaras fajutas de papelão. Vamos todos morrer e vejam só as suas caras no espelho, esse pedaço de carne.
Vocês estão levando a sério mesmo? Ou tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto?

Olhem bem para o flagelo vivido por aqueles abaixo da linha de pobreza, veja como isso não nos afeta tanto quanto o piso arranhado da sala de jantar, ou quem sabe as paredes manchadas de gordura. Que absurdo é preciso investir! Claro! Suei a camisa para ter tudo o que tenho, já os pobretões, pobres diabos, não fizeram nada, não conquistaram nada e por isso não merecem nada, pois eles não tem nada e são tão descartáveis quando os objetos da casa.
Morre um, nasce outro em seu lugar, que valor tem quem nada tem? Hã?

Não adianta, senhores e senhoras, não adianta argumentar, seja contra ou a favor desta ou daquela posição, seja politicamente correta, seja egoisticamente manipulada, pois é este o mundo que erigimos e muitos o aceitam de bom grado como sua morada! Um investimento, um futuro garantido, uma promessa de sucesso e toda essa falácia vendida.

Posso até me calar diante de tamanha bobagem, posso ouvi-los gritar aos berros em meus ouvidos que é este o único mundo possível, que é este o nosso lugar, que é esta a nossa natureza e que somente este mundo existe e que portanto, seria impossível sequer almejar algo além disso. Digo aos senhores que estou ouvido esta besteira desde que nasci! Sim, estou pacientemente ouvindo, que o bicho papão esta de baixo da cama, que o palhaço assassino me espera na próxima esquina, que a cuca cedo ou tarde vai me pegar, que o boi da cara preta vai me ferrar, e que o monstro do amanhã está a espreita... São infinitas as idiotices que venho escutando desde então e nestas milhares de armadilhas eu já caí como um pato.

Por vezes a estupidez é tamanha que me privo de dizer uma palavra sequer e me recolho ao silêncio no qual tenho sossego, e então balanço a cabeça e concordo com sandices inúmeras que me vem jorrar na cabeça, aqueles que em tudo creem, só não creem em si mesmos, aqueles que tudo sabem, só não sabem de si mesmos.
Vou aturando, aguentando, suportando, mas acreditando? Ah não! Quanto a isso não lhes posso garantir! Podem falar, palestrar até espumar a boca, mas não vão me convencer a aceitar, não mesmo!
O animal aqui foi aprisionado, acorrentado, mas não vencido! O animal foi comprado, vendido, descartado, reciclado, mas não foi convencido.

Me oferecem a ideia, bonitinha, formuladinha, mastigadinha, prontinha, não preciso nem pensar, não é preciso sequer ter um cérebro para questionar, mas não vou engolir, obrigada, mas não vou aceitar e se estão incomodados pela minha interna e eterna não aceitação, pois que se afastem do meu caminho, pois que me risquem de suas listas, de seus projetos, de seus sonhos, de seus futuros.

Caiam fora da minha frente, pois vou passar como um tanque de guerra por sobre esse muro forjado, não se enganem com o meu silêncio, não se enganem quando me verem dissimuladamente concordar com besteiras para não me estressar, aqui dentro a banda toca ao contrário, o rio corre as avessas, os ponteiros batem invertidos no ritmo do MEU coração.

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