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Mostrando postagens de 2010

Mil anos luz

Não preciso de nada... Nada que me faça sentir que anos a fio irei viver Décadas, séculos adiante... Sou transitória, eterna Não dói a idéia de que a morte segue Dói-me a brevidade que me expõe à dureza das coisas De uma cor que desbota De um rosto que desvanece De uma memória que se apaga Uma verdade digna de morte Um espaço entre coisas Quem vai segue adiante Uma nota que toca Concisa e precisa Digo: Fique e permaneça Sussuro: Vá e desvaneça Essa sílaba, divisa entre consoantes e vogais Uma alma entre mil mundos Um ruído do tempo, do agora Afora há sempre um amanhã Tantos que nem sei quantos Não há tempo nem espaço que se nos possa limitar Estou partindo Por vezes fugindo Mas estou chegando Aos poucos Num raio de mil anos luz

Eu ouço

Eu ouço as pessoas falarem comigo Me aconselhando, me guiando, me alertando, me confortando Me sinto por vezes perdida em meio a tantas palavras Deus me perdoe ser ingrata em relação àqueles que ofertam ajuda Não é isso o que acontece Agradeço a cada segundo, pela sorte que tenho Pela maravilha de trilhar um caminho rodeado pelas pessoas que me cercam Poderiam acreditar em qualquer coisa, existem milhares de escolhas E em meio a tantas escolhas, optaram por acreditar nesse eu a que me propus representar E eu a medida que ouvia, acenava positivamente com a cabeça sem nada dizer Todos me pareciam estar certos, mas aos poucos fui começando a perceber um pequeno buraco dentro de mim A sensação de que alguma coisa faltava ali, faltava uma voz Uma voz que quase não ouvia É como uma fratura As vezes temo que me perguntem minha opinião O que você acha disso? O que você quer? O que você tem em mente? Quais são seus objetivos? Onde pretende chegar? E eu então não saber responde

Os donos da verdade

Não sei que dia foi aquele Aquele em que decidiram o que era certo e o que era errado. Foi assim que começou Cada um carrega dentro de si uma infinidade de valores que somados constituem uma “bagagem” pesada Alguns se dispõem a arrastá-la consigo pela estrada da vida, acrescendo a ela cada vez mais verdades, teorias, assertivas universais Aos poucos a alma se curva Se curva diante das regras, das grades, das crenças, das imposições Deixa de ser, torna-se dever A verdade é ouro, mais absoluta certeza Uma verdade se multiplica por dez e assim por diante, na medida em que vamos nos munindo dela para viver e conviver As verdades se expandem para além das barreiras as quais nos impusemos e aos poucos começam por contornar as pessoas com as quais convivemos se espalham e invadem as vidas daqueles que ao nosso lado caminham e então se intensificam, se solidificam e falam por você, determinam para o outro como as coisas devem ser, se exteriorizam de modo que o mundo lá fora passa

Procura

Não me procurem nos albuns Nas fotos em grupo Nem em perfis perfeitos de pose. Não estarei lá a te olhar Aquele gelo pedrado no olhar Que sorri para você ai do outro lado Estes olhos que nos olham perscrutando A procura de nada No rosto um fio parado no papel luminoso da foto, um sorriso Um atestado, um aval De que a felicidade passou por você Beijou-te, fez-te sorrir Um abraço, um afago querido Um lembrar, um querer Destes que só as fotos têm Uma assinatura, um selo meu de que estive aqui De que passei por aqui e quando passei não estive sozinha As fotos provam, comprovam que eu existi Mas não me procure nas fotos Pedaços de papel Telas de computador Não estou lá, nunca estive Quem dera pudesse viver num pedaço de papel Ou em um arquivo de computador Assim, numa eterna ilusão, parada no tempo, isolada no espaço Mas não nessa passageira ilusão, acelerada no tempo, deslocada no espaço Perdida no compasso desacertado da vida.

O eterno amanhã

Morrendo para o hoje, vivendo para o amanhã No futuro eu serei... No amanhã existe a promessa que hoje não se concretiza O Amanhã é incerto, mas pelo amanhã eu espero E de hoje eu esqueço, eu passo por ele como quem toma um remédio Eu sou um ‘eterno vir-a-ser’ Pois hoje nada sou, além do que deveria ser amanhã Não há um segundo sequer do hoje que não tenha um que da angústia de amanhã A sede de hoje se projeta no amanhã Quando me deito para descansar procuro imaginar que o amanhã não virá Que o amanhã não irá acontecer, o dia não irá amanhecer, o tempo não irá prosseguir Imagino que hoje é o último dia, a última noite, minha última vez, meu último sono Então o mundo silencia, o tempo para e só assim posso descansar no que é Posso ser no momento em que sou Adormeço agora sem pedir pelo amanhã O absoluto envolve a última noite do que é no presente Eu me apago na escuridão do quarto como se jamais tivesse existido E assim reina a paz que jamais reinou.

Simples assim

Acendo todas as luzes do apartamento Assim como se fosse um dia daqueles Em que tudo cheira a comemoração Deixo as janelas abertas, o vento entrar a rolar No banho choro horrores, lavo a alma Os olhos embaçados que vagueam As mãos que tateam Passam superficiais pelas coisas Deito-me no chão da cozinha Buscando suporte na pureza dos animais Meu cão me olha e nada sabe, nem saberá o que é O que é ser humano Olho de volta e nada sei, nem saberei o que é O que é ser cão Ele fareja o peso dos pensamentos soltos no ar Eu o amo e ele ama de volta, simples assim A vida é simples assim e eu não sei

Complexas relações humanas

As relações humanas são situações de todo embricadas, complexos emaranhados de emoções repetidas, catárticas , mais energética que o laxante e menos que o drástico, uma teia rasteira, efêmera sujeita a delinquir ao menor esbarrão. Para debates que tangem emoções arraigadas, ilusões aferradas, erguem-se questões infinitamente redundantes, para as quais deve-se respostas igualmente supérfluas. Para perguntas sem respostas, não há perdão, há que se ter resposta devidamente elaborada para responder às espectativas do interrogante. Convém, para tanto, nos aprofundarmos neste ponto, posto que responder satisfatóriamente, exige a capacidade de discernirmos sobre as expectativas do próximo em relação a nós, tendo analisado e ponderado sobre tais expedientes, devemos então elaborar uma resposta adequada para cada interrogante em questão. Para que a resposta seja aceita positivamente é necessário um trabalho de formulação de oratórias que correspondam ao que o outro quer ouvir e não ao que v

Plúmeo

Hoje eu silencio as palavras de outrora Hoje pacifico o espírito que há muito esteve enfermo Hoje me disponho a ajudar, nem que seja a me calar ao lado de quem um pouco de paz precisar Hoje ouço, ouço e me calo, porque tudo aqui dentro silencia Hoje a palavra está guardada em meu coração Hoje as ponderações e opiniões cessaram de dizer Meu corpo hoje se compadece num estado de desatenção Aéreo, mas não etéreo. Hoje ele paira suavemente sem se chocar na dureza das coisas Âncora solta no mar pacífico, no silêncio que há em baixo d’água Livre no movimento lindo do dia para a noite Soprado ao sabor do vento como uma pluma sem rumo Querendo entregar seu destino nas mãos do desconhecido Pairando de cá para lá, subindo e descendo, sem maiores ambições.

Roda

Aqui tudo é denso As paredes são sólidas Duras e até quando amplas são estreitas à medida em que se estreita o olhar para lê-las As cores estão impressas só nas superfícies, não sei se em algum outro lugar posso encontrar cores tão cerradas Um mundo de espelhos, tudo reflete, qualquer movimento reflete, até o pensamento reflete no espelho de tão carregado de tudo Aqui você bate, aqui você leva, aqui você faz, aqui você paga, na frente de todos existe um imenso paredão concreto. Não há como passar através dele, somos concretos. Você se joga contra ele, bate a carne dos braços, os ossos das pernas e volta moído. Ação e reação. Você grita, o som ressoa, bate e volta para você. Tudo o que vai volta. Ação e reação. Na luz tudo o que é sólido, corpos, objetos, projetam atrás de si uma sombra, na proporção de um para um. Você desvia, ela desvia, você reage, ela reage, ação e reação. Tudo gira numa roda, início, meio, fim e então mais uma vez início, meio e fim. A cada volta completa

Uma luz

Está frio aqui onde estou Tanto que te causo arrepios Meu tormento é um mal estar em teu coração Tento sempre falar-te sutilmente o que sinto De um jeito que não te assuste nem te afaste No escuro da noite, venho insistentemente te encontrar Quando todos dormem, inclusive você, que parece descansar na paz do silêncio que jaz em teu quarto Tento demonstra-te minha presença, chamo-te a atenção e acabo por tirar-te o sono Então, você me diz que está tudo bem e relembra coisas agradáveis de seu passado para me confortar com o amor dele exalado Me diz que estamos a bordo de uma espaço-nave dourada, que sai por ai a iluminar corações abertos a uma energia sutil Cortesia benévola aliada a delicadeza de figura cósmica e então, um abraço, um sorriso, me espera no infinito desta vida.

Luzes de natal

Imagine, eu digo E então fecho os olhos E sinto que o ar que respiro é minha casa Sinto as luzes se acenderem As luzes que tanto esperei Luzes de natal Piscam no escuro Se eu abrir os olhos Não poderei evitar O coração se desfazer E perceber que sou toda emoção Mais emoção que razão Só assim posso viver Porque tudo aqui é para se emocionar Então não evito, Acompanhar a dança das luzes Não há lógica no que sinto Nem ciência no que digo Não há verdade no que vejo Se eu quizer, a música irá tocar E então será natal

Última hora

Sou das coisas mal planejadas Dos feitos de embora, de última hora Do coração batendo à frente do tempo Pressa infantil Dos que não esperam Saem batido as portas do tempo Abrigados num relógio Um coração tic tac Hoje é o prazo final Hoje é o dia em que começa E o dia em que termina É próximo o último grão de areia Que brinca se cai ou se não cai Sobe desce, numa gangorra de agústia Pende e toca o final, num chamado do tempo Medida arbitrária da duração das coisas Afinal tudo acontece, ao nascer e morrer do dia

Insetos

Ao fim da tarde, quando o céu em brasas cede espaço ao marinho azul que se apaga às luzes estelares de vaga lumes distantes no infinito, vou-me até janela e o ar queima vapores sulforosos, CO2, tragos e urros de ônibus e carros. Os bueiros, bocas imundas, arrotam insetos, hálito moderno da sujeira ordinária que aos poucos engole a cidade. Fecho a vidraça e de dentro vejo os insetos, pequenas cruzes do sacrifício humano, negros, brancos, amarelos, mistos, suspensos no ar, batendo compulsivamente suas cabeças na vidraça em busca de luz, em busca de sangue. Um exército faminto de timbres, zunindo numa só frequência, do instinto, da sede, da fome. Milhares deles intentam invadir minha torre, meu observatório terrestre. Rufam os tambores a espreita de minha fraqueza, vontade minha de seguir para além do olhar inocente, deliberado a agir, envenenar-se de toda peçonha que à minha porta bate.

Compromisso

Eu tinha um compromisso marcado Com hora e data indicados Era uma obrigação a realizar Um dever a cumprir A força invisível que me impingia a necessidade de ir, me esfriou A motivação se esvaiu no ter de ir do compromisso sem graça Meu rosto no espelho ao se preparar para mais um “eu estou aqui” se desbotou O sorriso afrouxou, os ombros penderam e se curvaram de modo que as roupas não lhe caíam bem Os joelhos tortos ficaram bobos como os de um tolo Os braços se deixaram cair da cintura rumo as pernas, pilastras imóveis A força, a paixão, fugiram num riso mofado Na hora a vontade escapou, apesar do combinado Então decidi que não ia E aqueles que lá não me vissem, que se contentassem a me criticar os maus modos.
Pois que me gosto de dizer Palestrar, monologar Ao espelho quase nada relato Pois sei que naquele rosto Repleto de várias expressões Que não aquelas do dia a dia Do tratamento alheio E bem dizer Reflete um sorriso secreto Careta mal criada Um espanto Um concorde Uma tristeza distante Uma angústia vibrante Quantas surpresas hão na haste destas sobrancelhas, Conquistas e perdas no canto destes olhos, fundos, negros pântanos Quanto tempo, finas linhas a sulcar, Fendas por onde correm lágrimas de dor e júbilo Tão caras e raras Tantas são as caras, máscaras, almas Disto, daquilo Enxergar um só reflexo seria-me um sacrifício Dessa minha sina de rostos em catarata

Hoje

Hoje estou pacífica Hoje eu aceito Hoje eu entrego Não resisto, nem me oponho Pelo fluxo de indução que atravessa O céu de hoje que despenca sobre minha cabeça Hoje brilha uma lanterna silente, paciente Um abraço de paz Rara harmonia do dia e do tempo

Quando em vez

Um sono absoluto vem de quando em vez Me chamar, me pedir, Para soltar, Deixar cair, Na claridade do amanhecer Dos cabelos que soprados Se arrastam pelo meu rosto Me impedem as mãos de buscar amparo Meus olhos perdidos, eternamente, brevemente Os pensamentos ... Que paraíso sonhar Deixar ser a vida, aquela que circula nos pulsos No coração sangue que comprime, exprime Dos olhos lágrimas, sem dor, sem mais Sutil e sensível, a mais bela parte do dia Daqueles, desses dias, despidos de artifícios Em que o corpo consente em existir Assim como qualquer outro ser

Pedras

Preciso de alguma leveza Tudo são pedras, Cálculos e concreções As falas forjadas Cobranças Estanques As paredes são grades As grades espíritos Figuras pintadas O silêncio... O silêncio das horas que passam Do desejo que esmorece Cresce, evolui a luta A vontade se adianta e Recua o impulso iônico do mar

Cicatriz

Cicatriz, Corta um veio nas costas Sulcadas de dor Marcas, De um Paraíso opressor Tirania selvagem Seu, Meu, Deus, Demônio pagão Deserto de sal Ferve e serve Sílabas, escassas, secas Fonte servil Meu corpo guarda um silêncio infinito de não ditos Uma ânsia de querer falar e se calar Um trago, um rasgo Afago de paixões vilãs

Sonho doce

Como os sonhos são doces. Escapam às barreias da vida e morte Realizam o encontro impossível entre o ir e vir Entre quem ficou e quem se foi Sopram longe os agouros lúgubres Num frescor primaveril de um eterno reviver O acordar, só me deixa vestígios, fragmentos Uma memória presente, consciente de seu meio tom desgastado, Passado que se reconstrói continuamente em meu coração Ciente de que vem a morte, mas de que nela não reside o fim

Tantas

Tantas são as coisas Tantas as escolhas Imagino que de tantas e tantas coisas Tantas e tantas escolhas Quantas não são as mesmas Então me pergunto De tantas e tantas perguntas De tantas e tantas pessoas Quantas não se perguntam a mesma coisa Nesse mundo de tantas e mesmas coisas.

Gosto amargo da vida

No breu do porto pousa uma rapariga Feito mariposa a baixo da luz do píer Atenta ao sibilo dos sinos Zunido que jaz no cais Na orquestra de animais noturnos Dança o brilho distante dos vaga-lumes Faróis remotos, supostas estrelas Uma ventania fria Sacia o vazio Acompanha a fuga de uma alma aflita Lume frouxo, desfalecido Guia aos navegantes Nau sem dono à deriva Vêm de encontro ondas oceânicas A lamber o píer numa solapada salgada Ferve-lhe a boca feito sal de fruta Recua engolindo limo Consciência imunda Gosto amargo da vida

Concentra-te

Concentra-te apenas no ato de beber um copo de água, seu frescor, seu sabor, deslizando garganta abaixo até o estomago, a calma de um só movimento e num instante o mundo parece parar até que se sorva a última gota d’água a saciar a sede que se mescla a um tempo pacífico e segue esmorecendo a angústia do desejo.

Chove

Chove! Chove sem parar acima da terra a se escorrer Não vejo chover, ouço apenas rumores de sua constância Sons pausados, alardeados na boca dos outros Sob a montanha repousa um amigo Sobre ela brota um cravo, ainda um talo Sob a chuva que insiste engolir-lhe a vida Sopra uma nuvem embebida em carvão Esmorece o pranto celeste Num levante da estrela em chamas Da terra escorre o labor O suor dessa dor Um pudor Descansa o ardor O fervor, o calor Floresce o frescor ao sabor dos sonhos de um amor

Não há nada

Não há estrofes nestas poesias Não há métrica nesta minha vida Não há conto neste meu dilema Não há drama nesta minha paixão Não há gênero, nem estilo Não há lira, nem lirismo Neste mar de sabe nada Não há truque nem retoque Não há nada neste fado É um ruído, uma voz Um tom e um som No embalo desse timbre.

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Deita-se o mormaço por sobre o asfalto da cidade Um som abafado de guitarra permeia a noite Emitido de um pub barato, cheira a pinga de esquina Num solo ecoa pelo silêncio dramático da escuridão Invocando a solidão dos becos, dos desamparos Bafejam gazes venenosos dos bueiros, expelindo insetos, injurias Ateando fogo nos corpos à mercê do cenário de horrores Partículas ardentes que soltam de si as matérias em combustão Morada dos justos, estilo hodierno, corpos revestidos de crómio, corações de uretano à prova de quedas, riscos e solavancos. À prova de vida, condições desumanas. Suas almas rechargers perecíveis, suscetíveis à esteira do tempo, condenadas, obsoletas Delas sopra uma trilha, sonora emoção, lenda, paixão humana a resistir em meio a artifícios, fogos forjados, desejos moldados, num rio metálico, pesado, vergado, compadre nocivo Um suspiro afoga a todos nós, um chamado, uma cura, um destino implacável, sê forte, sê duro. Pois haveremos de ser, padecer e per

Passando

Não se assuste assim Não se apresse assim Não se desespere assim Assim tudo passa tão depressa Assim tudo é passado Vá com calma Um passo de cada vez Os passos vão passando Passeando e se tornando passado Eu digo e o que digo se passou Tudo vai passando e passado virando O passado vai crescendo e passando As saudades vão crescendo e ficando Tente não se preocupar, nos veremos adiante Leve apenas o que precisar e nos veremos um dia Deixe passar, para seguir em frente e passar adiante Lembre-se, pois isso irá passar e então seremos lembranças Seremos lembrados, seremos passado, seremos saudades Seremos eternos, seremos o perfume da noite, o arrepio febril, a nudez das árvores, a brisa do mar, o calor do verão As gerações que se passaram e deram lugar àquelas que irão passar Estaremos em todo lugar, assim como o passado que carregamos e que nos vai levando do presente para o futuro, numa locomotiva a viajar, num balão a voar Um olá vem trazer e um adeus vem deixar, p

Sonho

Sonhei que era noite e que a chuva ameaçava cair, então pensei em correr até lá fora para ver a água cair. Estava tudo tão quieto, apenas o barulho do vento que trazia a chuva e na escuridão as luzes da calçada dançavam sozinhas isoladas cada qual num círculo apartado. Lembrei-me de que no passado as copas das árvores cegavam as luzes dos postes. No sonho, passado e imaginação se mesclavam e criavam um cenário perfeito como sempre sonhei que seria minha casa, meu lar, meu lugar, mas é apenas um sonho, o meu lugar é apenas um sonho. Nele as coisas flutuam leves no ar e num salto vou de um pavimento ao outro, nele o tempo inexiste e é noite ou dia, basta querer. Subi até o topo da imaginação e chamei: Pingooooooooo Do outro lado, quem era aquele que olhava assustado? De cá, quem era a moça que chamava no escuro? No sonho posso ver quem quer que seja, nem que seja para dizer adeus. Chamavam-me ao telefone, mas não havia ninguém do outro lado da linha, era apenas uma expectativ

É noite

É noite e ando só Não há nada além do silêncio Do frio que sopra devagar Me despertando de um sono eterno O céu desenha um tempo passado Tudo ao redor existe Meu coração cavalga a galope Tudo é O universo me toca e me toma Me consome de uma só vez De mim irradia calor, é infinitamente humano Uma paixão negligente, insensível a dor, Deseja se confundir Numa só chama se dissipar Num descuido, em descompasso Meu corpo plena luz a queimar, consumindo a escuridão Quero dançar absoluta nos limites do tempo, estou apaixonada, determinada É tão grande que não posso conceber, peço perdão, quero de tudo me desvencilhar Os laços rijos do tempo me arrastam de volta, violento, sonoro de volta ao vazio À ausência, à escassez, à sede infinita, insaciável cortejo do tempo A ordem do tempo se cumpre, mais um ciclo se encerra E lá se foi o tempo na noite a voar...