No cais pousa uma alma noturna, eterna e diminuta frente aos dramas nos quais a mente mantem-se embebida.
Uma consciência há milênios adormecida.
Bêbada de ilusão.
Atormentada de vícios.
Confusa frente a grandeza superficial dos problemas que assolam incessantemente a vida humana.
Quão ordinário é o homem que nós somos, de pé no cais.
Um corpo movediço e mortiço, pendendo para cá e para lá, como um barco a deriva.
Erguia ao redor uma tempestade macabra, trovões malfeitores, ventos fora da lei. A lei da vida e do universo de nada vale neste mundo de enganos.
O mar estoura nervoso na praia dos atordoados.
Nos braços carrega o medo, um medo primitivo, resgatado de eras remotas.
Medo que constantemente se renova sobre novas faces, que se atualiza sempre e sempre em seu e nossos corações.
Não é a noite nem o mar, e sim ele quem teme o desconhecido que somente nele e em nós habita e interminavelmente dura alimentado, mais e mais, na medida em que depara-se com o inexplicável de si mesmo.
Falta-lhe (nos) maturidade, mas é já um homem, ancião, vivido e sofrido, vai-se mergulhando cada vez mais nas andanças desesperadas da alma. Uma criança que nunca cresceu, nem quer crescer, pelo menos ainda não. Não agora que prefere mergulhar cada vez mais e mais fundo em ilusões, bebê-las todas de uma vez. Um bêbedo que jamais vislumbrou a lucidez.
Peguntaram quem era, mas não havia ninguém.