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Mostrando postagens de maio, 2009

Aperto no peito

Aquele aperto que brota no peito Embotando a vista Cheirando a chuva Saudade anunciada A beijar-me o rosto Passarinho escarlate Que há sentimento De sussurrar ao pé da orelha Num decoro musical Versos verões d’ouro Perdão dos compridos meses Que nos impedem mergulhar Viajar onda canção Um tempo às nossas costas Traz o desabrochar das rosas Chaga aberta A deitar espinhos Reticências fragmentos Em variáveis infiéis Dor: nem forte nem aguda Vai passando devagarinho Do vinho ao vinagre Embebendo a alma Viço danado Estufa um suspiro Trazido do ventre À jaula do peito Então me resta, do que nada adianta Bato com as mãos espalmadas no muro Vou-me embora a assoviar

Dos tempos de Poděbradova

Do quarto da pensão onde eu morava na Rua Poděbradova, vinha a noite me chamar, a caminhar, a degustar a solidão daqueles dias. Da janela avisto poucas luzes tremulantes, distantes feito estrelas, provocando minha imaginação, a quem estariam a iluminar? Aquele céu frio me acalmava os pensamentos, que saiam soltos, perdidos na brisa gelada. Sem que pudesse aprisioná-los quietos neste corpo escorado à janela, havia um desejo de me juntar a noite, me esgueirar por entre as sombras dos arvoredos, projetar-me maior no asfalto destas ruas. Alma marginal, soturna a vagar em silêncio aterrador. Corpo quente, afagado entre casacos, sobretudos, cachecóis, das botas sobem ruídos pausados como alguém que bate à porta. Os sons da noite se ajuntam em sobressaltos, mistérios infinitos cúmplices entre si. Experimentava o sabor da cidade, sua essência fantasma em que uivava um passado vivo. Minh’alma rumo a si mesma, queria estar só, ouvir o calar do mundo, o ronronar dos sonos, o sopro gelado

Dalila

Porque peço, acalmar essa ânsia, de humor semi-árido. Estes pés inquietos réquiens de Dalila. Pobre coitada, andar sob o sol lhe parece uma lástima, tua pele suada a lagrimejar pelas curvas, ardendo-lhe os traços. Estrada vazia, marginais margaridas impedidas no asfalto, fantasmas do vento. Numa falha contida, vaidade ou orgulho, se apressa adiante, de que adianta correr? Sentimento de perda, prisioneiro do tempo, retesado no bojo, no seio de “Lila”. Seu olhar judiado, indaga o espaço em profundos naufrágios. Tudo são lugares cravados, raízes do vácuo, memórias fulgentes. Cegueira brilhante, os olhos se ajuntam e o clima tórrido cria ondulações no ar, silfos dançantes. Dalila se apressa a equilibrar-se na solidez do asfalto, retilínea ilusão. Teu andar a galope, rapidez malcriada, confessa essa pressa. Dalila, depressa, se expressa compressa. Prolonga um suspiro, um tiro, um espirro. Um sopro agitado mesclado no vento, teu hálito quente sedento de um fim. Chega Dalila, ch

Dois reluzentes cristais

Não... Não foram seus olhos quem viram o que afirmou ter visto o coração Não... Não é sempre que se deve confiar no que dizem os olhos Mas se seus olhos mesmo já fechados insistirem em lhe dizer o que vêem Se implorarem para que uma vez mais se abram as janelas Fazendo iluminar dois brilhantes cristais Se só assim puderem afirmar Então... Guarde seus dois preciosos cristais em seu interior Lá onde um universo pulsante se alinha às batidas do coração E então siga para além de onde podem te levar as janelas abertas Vá... Voe para além de onde pode a vista enxergar Deixe ser, não há medidas que possam, então, conter em esferas dois reluzentes cristais Sem pensar no que dizer Palavras jamais dirão Palavras jamais verão Palavras jamais saberão Mas deixe que falem pelo que não há palavras Deixe-as correr Deslizar por uma superfície contida Sem que possam aprisionar Como as janelas que emolduram a infinitude do horizonte Num pequeno espaço envolvido em recortes Se sã