Certo dia disse como todo e qualquer mortal: “Conto com todos”, “Conto contigo”, “Conte comigo”.
O que mais de tantas ilusões eu disse?
Não conte mais...
Não conte comigo, nem com todos. Não conte mais...
Quando de todas as ilusões, uma sequer tenha valido realmente a pena, não me conte nem comigo conte.
Por um acaso contastes mesmo consigo, com quem quer que seja, sem que lhe postasse uma bela dose de cobrança, acrescido de certa desconfiança, expectativa e medo?
Não conte comigo, não estou aqui para lhe oferecer segurança, estabilidade, previsibilidade, nem para amparar um peso que mal se sustenta de pé sobre suas próprias bases.
Não, este não é um recado ou aviso pessoal, esta é uma realidade que se encaixa ao ser humano.
Não é preciso segurança, nem estabilidade, não é preciso buscar eternamente tais ilusões de estado que a nada levam a não ser ao caos.
Não é preciso depender, se apegar, agarra-se, como um desesperado que se afoga. Não há porque encontrar um porto seguro para de lá jamais sair, se manter constante, sempre o mesmo. Não há necessidade de se ancorar, se apegar.
Não conte comigo para o dever ser, nem para o sonho dourado do amanha, para o sucesso vindouro.
Não conte comigo para projetar o futuro, desenhar ilusões, colorir um apego desesperado pela segurança almejada.
Não é preciso se arrastar em sentimentalismos e emocionalismos para provar do amor, muito deste calor a que chamamos humano não passa de um amontoado entulhado de ideias e afetações medíocres.
As paixões a que muitos se curvam não passam de auto satisfação, por vezes um sofrimento pelo qual se atinge prazer, uma confusão doentia, um conflito inútil do ego. Prisão para a alma.
Escravos da dor, do estúpido vir a ser. Ciclos, idas e vindas, novidades de uma vida que não passa de repetições disfarçadas.
O mesmo se perpetua ao longo dos séculos e no tempo se nutre para tornar-se cada vez mais forte a roda que gira e resvala sempre pelos mesmos caminhos.