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Mostrando postagens de agosto, 2010

Procura

Não me procurem nos albuns Nas fotos em grupo Nem em perfis perfeitos de pose. Não estarei lá a te olhar Aquele gelo pedrado no olhar Que sorri para você ai do outro lado Estes olhos que nos olham perscrutando A procura de nada No rosto um fio parado no papel luminoso da foto, um sorriso Um atestado, um aval De que a felicidade passou por você Beijou-te, fez-te sorrir Um abraço, um afago querido Um lembrar, um querer Destes que só as fotos têm Uma assinatura, um selo meu de que estive aqui De que passei por aqui e quando passei não estive sozinha As fotos provam, comprovam que eu existi Mas não me procure nas fotos Pedaços de papel Telas de computador Não estou lá, nunca estive Quem dera pudesse viver num pedaço de papel Ou em um arquivo de computador Assim, numa eterna ilusão, parada no tempo, isolada no espaço Mas não nessa passageira ilusão, acelerada no tempo, deslocada no espaço Perdida no compasso desacertado da vida.

O eterno amanhã

Morrendo para o hoje, vivendo para o amanhã No futuro eu serei... No amanhã existe a promessa que hoje não se concretiza O Amanhã é incerto, mas pelo amanhã eu espero E de hoje eu esqueço, eu passo por ele como quem toma um remédio Eu sou um ‘eterno vir-a-ser’ Pois hoje nada sou, além do que deveria ser amanhã Não há um segundo sequer do hoje que não tenha um que da angústia de amanhã A sede de hoje se projeta no amanhã Quando me deito para descansar procuro imaginar que o amanhã não virá Que o amanhã não irá acontecer, o dia não irá amanhecer, o tempo não irá prosseguir Imagino que hoje é o último dia, a última noite, minha última vez, meu último sono Então o mundo silencia, o tempo para e só assim posso descansar no que é Posso ser no momento em que sou Adormeço agora sem pedir pelo amanhã O absoluto envolve a última noite do que é no presente Eu me apago na escuridão do quarto como se jamais tivesse existido E assim reina a paz que jamais reinou.

Simples assim

Acendo todas as luzes do apartamento Assim como se fosse um dia daqueles Em que tudo cheira a comemoração Deixo as janelas abertas, o vento entrar a rolar No banho choro horrores, lavo a alma Os olhos embaçados que vagueam As mãos que tateam Passam superficiais pelas coisas Deito-me no chão da cozinha Buscando suporte na pureza dos animais Meu cão me olha e nada sabe, nem saberá o que é O que é ser humano Olho de volta e nada sei, nem saberei o que é O que é ser cão Ele fareja o peso dos pensamentos soltos no ar Eu o amo e ele ama de volta, simples assim A vida é simples assim e eu não sei