Aqui tudo é denso
As paredes são sólidas
Duras e até quando amplas são estreitas à medida em que se estreita o olhar para lê-las
As cores estão impressas só nas superfícies, não sei se em algum outro lugar posso encontrar cores tão cerradas
Um mundo de espelhos, tudo reflete, qualquer movimento reflete, até o pensamento reflete no espelho de tão carregado de tudo
Aqui você bate, aqui você leva, aqui você faz, aqui você paga, na frente de todos existe um imenso paredão concreto. Não há como passar através dele, somos concretos.
Você se joga contra ele, bate a carne dos braços, os ossos das pernas e volta moído. Ação e reação. Você grita, o som ressoa, bate e volta para você. Tudo o que vai volta. Ação e reação.
Na luz tudo o que é sólido, corpos, objetos, projetam atrás de si uma sombra, na proporção de um para um. Você desvia, ela desvia, você reage, ela reage, ação e reação.
Tudo gira numa roda, início, meio, fim e então mais uma vez início, meio e fim. A cada volta completa da roda ela se torna mais pesada, devido ao contínuo acumulo de início, meio, fim. Continua. Você continua e vai continuando mais uma vez, e de novo, e de novo. A roda vai girando cada vez mais densa, mais pesada, e vai prensando, comprimindo, esmagando, extraindo todo o suco que se acumula no fardo que foi se formando e vai ela se arrastando, estalando, girando, girando, girando, girando.
Bateu-levou, ação-reação, aqui se faz-aqui se paga, na roda se faz na roda se paga, e assim por diante, na roda do bateu-levou, ação-reação, a roda cresce e pesa ainda mais, mais sólida fica. Reação em cadeia.
A roda se repete, redunda, a roda é tudo até onde vai o paredão, ali bateu-levou, ação-reação, pergunta - resposta, verdade - mentira, certo - errado, preto - branco, tudo - nada, quente - frio, seco - molhado, vivo – morto, bem – mal, velho – novo, cheio – vazio, grande – pequeno, sujo – limpo, luz – escuro, tudo entre dois pólos opostos, positivo-negativo, que se misturam, que se repelem, teia complexa, teia que envolve e maçaroca, até não ter como escapar.
A gente se equilibra na corda, na corda bamba da vida e eis que as tentativas, movimentos sutis ou bruscos, irão todos repercutir nas extremidades, e então a corda irá vibrar, até ceder e recomeçar.
segunda-feira, junho 21, 2010
quarta-feira, maio 26, 2010
Uma luz
Está frio aqui onde estou
Tanto que te causo arrepios
Meu tormento é um mal estar em teu coração
Tento sempre falar-te sutilmente o que sinto
De um jeito que não te assuste nem te afaste
No escuro da noite, venho insistentemente te encontrar
Quando todos dormem, inclusive você, que parece descansar na paz do silêncio que jaz em teu quarto
Tento demonstra-te minha presença, chamo-te a atenção e acabo por tirar-te o sono
Então, você me diz que está tudo bem e relembra coisas agradáveis de seu passado para me confortar com o amor dele exalado
Me diz que estamos a bordo de uma espaço-nave dourada, que sai por ai a iluminar corações abertos a uma energia sutil
Cortesia benévola aliada a delicadeza de figura cósmica e então, um abraço, um sorriso, me espera no infinito desta vida.
Tanto que te causo arrepios
Meu tormento é um mal estar em teu coração
Tento sempre falar-te sutilmente o que sinto
De um jeito que não te assuste nem te afaste
No escuro da noite, venho insistentemente te encontrar
Quando todos dormem, inclusive você, que parece descansar na paz do silêncio que jaz em teu quarto
Tento demonstra-te minha presença, chamo-te a atenção e acabo por tirar-te o sono
Então, você me diz que está tudo bem e relembra coisas agradáveis de seu passado para me confortar com o amor dele exalado
Me diz que estamos a bordo de uma espaço-nave dourada, que sai por ai a iluminar corações abertos a uma energia sutil
Cortesia benévola aliada a delicadeza de figura cósmica e então, um abraço, um sorriso, me espera no infinito desta vida.
segunda-feira, maio 17, 2010
Luzes de natal
Imagine, eu digo
E então fecho os olhos
E sinto que o ar que respiro é minha casa
Sinto as luzes se acenderem
As luzes que tanto esperei
Luzes de natal
Piscam no escuro
Se eu abrir os olhos
Não poderei evitar
O coração se desfazer
E perceber que sou toda emoção
Mais emoção que razão
Só assim posso viver
Porque tudo aqui é para se emocionar
Então não evito,
Acompanhar a dança das luzes
Não há lógica no que sinto
Nem ciência no que digo
Não há verdade no que vejo
Se eu quiser, a música irá tocar
E então será natal
E então fecho os olhos
E sinto que o ar que respiro é minha casa
Sinto as luzes se acenderem
As luzes que tanto esperei
Luzes de natal
Piscam no escuro
Se eu abrir os olhos
Não poderei evitar
O coração se desfazer
E perceber que sou toda emoção
Mais emoção que razão
Só assim posso viver
Porque tudo aqui é para se emocionar
Então não evito,
Acompanhar a dança das luzes
Não há lógica no que sinto
Nem ciência no que digo
Não há verdade no que vejo
Se eu quiser, a música irá tocar
E então será natal
terça-feira, maio 11, 2010
Última hora
Sou das coisas mal planejadas
Dos feitos de embora, de última hora
Do coração batendo à frente do tempo
Pressa infantil
Dos que não esperam
Saem batido as portas do tempo
Abrigados num relógio
Um coração tic - tac
Hoje é o prazo final
Hoje é o dia em que começa
E o dia em que termina
É próximo o último grão de areia
Que brinca se cai ou se não cai
Sobe desce, numa gangorra de angústia
Pende e toca o final, num chamado do tempo
Medida arbitrária da duração das coisas
Afinal tudo acontece, ao nascer e morrer do dia
Dos feitos de embora, de última hora
Do coração batendo à frente do tempo
Pressa infantil
Dos que não esperam
Saem batido as portas do tempo
Abrigados num relógio
Um coração tic - tac
Hoje é o prazo final
Hoje é o dia em que começa
E o dia em que termina
É próximo o último grão de areia
Que brinca se cai ou se não cai
Sobe desce, numa gangorra de angústia
Pende e toca o final, num chamado do tempo
Medida arbitrária da duração das coisas
Afinal tudo acontece, ao nascer e morrer do dia
domingo, maio 02, 2010
Insetos
Ao fim da tarde, quando o céu em brasas cede espaço ao marinho azul que se apaga às luzes estelares de vaga lumes distantes no infinito, vou-me até janela e o ar queima vapores sulforosos, CO2, tragos e urros de ônibus e carros.
Os bueiros, bocas imundas, arrotam insetos, hálito moderno da sujeira ordinária que aos poucos engole a cidade. Fecho a vidraça e de dentro vejo os insetos, pequenas cruzes do sacrifício humano, negros, brancos, amarelos, mistos, suspensos no ar, batendo compulsivamente suas cabeças na vidraça em busca de luz, em busca de sangue.
Um exército faminto de timbres, zunindo numa só frequência, do instinto, da sede, da fome. Milhares deles intentam invadir minha torre, meu observatório terrestre. Rufam os tambores a espreita de minha fraqueza, vontade minha de seguir para além do olhar inocente, deliberado a agir, envenenar-se de toda peçonha que à minha porta bate.
quinta-feira, abril 15, 2010
Compromisso
Eu tinha um compromisso marcado
Com hora e data indicados
Era uma obrigação a realizar
Um dever a cumprir
A força invisível que me impingia a necessidade de ir, me esfriou
A motivação se esvaiu no ter de ir do compromisso sem graça
Meu rosto no espelho ao se preparar para mais um “eu estou aqui” se desbotou
O sorriso afrouxou, os ombros penderam e se curvaram de modo que as roupas não lhe caíam bem
Os joelhos tortos ficaram bobos como os de um tolo
Os braços se deixaram cair da cintura rumo as pernas, pilastras imóveis
A força, a paixão, fugiram num riso mofado
Na hora a vontade escapou, apesar do combinado
Então decidi que não ia
E aqueles que lá não me vissem, que se contentassem a me criticar os maus modos.
Com hora e data indicados
Era uma obrigação a realizar
Um dever a cumprir
A força invisível que me impingia a necessidade de ir, me esfriou
A motivação se esvaiu no ter de ir do compromisso sem graça
Meu rosto no espelho ao se preparar para mais um “eu estou aqui” se desbotou
O sorriso afrouxou, os ombros penderam e se curvaram de modo que as roupas não lhe caíam bem
Os joelhos tortos ficaram bobos como os de um tolo
Os braços se deixaram cair da cintura rumo as pernas, pilastras imóveis
A força, a paixão, fugiram num riso mofado
Na hora a vontade escapou, apesar do combinado
Então decidi que não ia
E aqueles que lá não me vissem, que se contentassem a me criticar os maus modos.
sexta-feira, abril 09, 2010
Monólogos
Pois que me gosto de dizer
Palestrar, monologar
Ao espelho quase nada relato
Pois sei que naquele rosto
Repleto de várias expressões
Que não aquelas do dia a dia
Do tratamento alheio
E bem dizer
Reflete um sorriso secreto
Careta mal criada
Um espanto
Um concorde
Uma tristeza distante
Uma angústia vibrante
Quantas surpresas hão na haste destas sobrancelhas,
Conquistas e perdas no canto destes olhos, fundos, negros pântanos
Quanto tempo, finas linhas a sulcar,
Fendas por onde correm lágrimas de dor e júbilo
Tão caras e raras
Tantas são as caras, máscaras, almas
Disto, daquilo
Enxergar um só reflexo seria-me um sacrifício
Dessa minha sina de rostos em catarata
Palestrar, monologar
Ao espelho quase nada relato
Pois sei que naquele rosto
Repleto de várias expressões
Que não aquelas do dia a dia
Do tratamento alheio
E bem dizer
Reflete um sorriso secreto
Careta mal criada
Um espanto
Um concorde
Uma tristeza distante
Uma angústia vibrante
Quantas surpresas hão na haste destas sobrancelhas,
Conquistas e perdas no canto destes olhos, fundos, negros pântanos
Quanto tempo, finas linhas a sulcar,
Fendas por onde correm lágrimas de dor e júbilo
Tão caras e raras
Tantas são as caras, máscaras, almas
Disto, daquilo
Enxergar um só reflexo seria-me um sacrifício
Dessa minha sina de rostos em catarata
Assinar:
Postagens (Atom)