Aqui tudo é denso
As paredes são sólidas
Duras e até quando amplas são estreitas à medida em que se estreita o olhar para lê-las
As cores estão impressas só nas superfícies, não sei se em algum outro lugar posso encontrar cores tão cerradas
Um mundo de espelhos, tudo reflete, qualquer movimento reflete, até o pensamento reflete no espelho de tão carregado de tudo
Aqui você bate, aqui você leva, aqui você faz, aqui você paga, na frente de todos existe um imenso paredão concreto. Não há como passar através dele, somos concretos.
Você se joga contra ele, bate a carne dos braços, os ossos das pernas e volta moído. Ação e reação. Você grita, o som ressoa, bate e volta para você. Tudo o que vai volta. Ação e reação.
Na luz tudo o que é sólido, corpos, objetos, projetam atrás de si uma sombra, na proporção de um para um. Você desvia, ela desvia, você reage, ela reage, ação e reação.
Tudo gira numa roda, início, meio, fim e então mais uma vez início, meio e fim. A cada volta completa da roda ela se torna mais pesada, devido ao contínuo acumulo de início, meio, fim. Continua. Você continua e vai continuando mais uma vez, e de novo, e de novo. A roda vai girando cada vez mais densa, mais pesada, e vai prensando, comprimindo, esmagando, extraindo todo o suco que se acumula no fardo que foi se formando e vai ela se arrastando, estalando, girando, girando, girando, girando.
Bateu-levou, ação-reação, aqui se faz-aqui se paga, na roda se faz na roda se paga, e assim por diante, na roda do bateu-levou, ação-reação, a roda cresce e pesa ainda mais, mais sólida fica. Reação em cadeia.
A roda se repete, redunda, a roda é tudo até onde vai o paredão, ali bateu-levou, ação-reação, pergunta - resposta, verdade - mentira, certo - errado, preto - branco, tudo - nada, quente - frio, seco - molhado, vivo – morto, bem – mal, velho – novo, cheio – vazio, grande – pequeno, sujo – limpo, luz – escuro, tudo entre dois pólos opostos, positivo-negativo, que se misturam, que se repelem, teia complexa, teia que envolve e maçaroca, até não ter como escapar.
A gente se equilibra na corda, na corda bamba da vida e eis que as tentativas, movimentos sutis ou bruscos, irão todos repercutir nas extremidades, e então a corda irá vibrar, até ceder e recomeçar.