Pular para o conteúdo principal

Aproveite


Ahhh como adoro frases típicas de auto – ajuda que nos dizem coisas tais como:

A vida é uma só, aproveite-a bem!
Viva cada momento, cada segundo com intensidade com se este fosse o último, aproveite o tempo que tem para ser feliz!

Eu pergunto: Mas o que é isso? A vida é um produto, que deve ser consumido/ aproveitado antes que vença a data de validade? Será que é isso o que querem dizer?

E como será que devemos então aproveitar de maneira adequada cada segundo de nossas vidas? Sim, pois a vida esta sendo cronometrada detalhadamente na base dos segundos, devemos nos apressar o quanto antes para nos satisfazer, nos tornarmos felizes.
Deveriam mesmo é lançar um manual de como aproveitar bem o resto do tempo que ainda possuímos de vida.
Aproveitar o RESTO.
Não gastar atoa o tempo que ainda nos SOBRA.

Resto... Sobra...
A vida é o que? Resto de tempo? Sobra de tempo? A vida é o tempo? Ou o tempo é a vida?

Vamos aproveitar...
Vamos aproveitar essa coisa que nos move, porque com ela nada mais podemos fazer a não ser aproveitá-la, usá-la, consumi-la até o fim.

Conquiste seu espaço!
Eu diria: Ora, pois já o tenho! Tudo que ocupa lugar no espaço e tem massa é matéria – já nos dizia a Química. Sou matéria, portanto, ocupo o espaço seja ele conquistado ou não.

Conquiste seus ideais!
Eu diria: Ora já os conquistei na medida em que os tenho.

A felicidade, lamentavelmente, tornou-se mercadoria vendida como água. Ora pois, se para ser feliz, aproveitar a vida, viver momentos intensos e mágicos, para os quais já existem modelos pré – definidos, milhares de possibilidades ofertadas: boates, festas, bares, shoppings, parques de diversão, zoológicos... Faz com que a “felicidade” seja alcançada somente através destes modelos, pelo menos para alguns (alguns que são numerosos).
Milhares de festas que vendem suas entradas, seus ingressos para a “felicidade” e diversão, mesmo para a liberdade, noção muita das vezes reduzida a tais aspectos, criando pessoas entorpecidas pela “felicidade” extrema, contorcendo-se de tanto rir, sempre a procura de entretenimento, sedentas de tudo quase que por obrigação, perdidas num mundo onde tudo é possível, quando no fundo sabemos, que não o é.
Vendem-nos “felicidade” num pacote colorido e vistoso, de “felicidades” possíveis, organizadas e previsíveis dentro de nosso alegre e empolgado sistema capitalista.

Mas, por favor, aqueles que me lerem, não pensem ser eu uma militante socialista ou comunista, pois definitivamente não o sou. E nem que eu não me divirta e seja “feliz” inserida nestes padrões padronizantes (me perdoem a redundância), pois afinal, também faço parte do empolgado e frenético sistema, o que não me impede de criticá-lo e de aspirar por algo muito além do que ele me oferece já que as possibilidades por ele ofertadas são em minha opinião insuficientes.

Não se preocupem com isso, preocupem-se em se sentirem bem, encaixados na política do bem – estar, pois acima de tudo devemos ser “felizes”, assim mesmo, nestes termos. Porque está tudo bem, somos nós quem fazemos o mundo girar, muitas vezes ao nosso redor.
Nascemos para ser feliz! E o resto vem como que por encomenda pelo correio expresso. Só deveríamos ter cuidado porque no pacote pode se esconder uma bomba relógio, ah e aqui o tempo não tem parada, está disparado, não adianta correr nem tentar alcançá-lo.

E mais uma vez se impõe o tempo, aquele que nos resta e que não devemos perder, porque estamos sempre muito apressados, quase atrasados, para nos divertir, nos realizar, nos entreter, fazer acontecer, para sermos não se sabe o que.

Mas não há com que o que se preocupar afinal isso aqui é só um desabafo, uma chatice. Aproveitem a viajem, pessoal! Aproveitem a viajem...

Postagens mais visitadas deste blog

Possível

Se existe mesmo a imortalidade das coisas é possível ainda ver a chuva do outro lado do oceano É possível presenciar as auroras boreais tão distantes daqui onde o horizonte não alcança É possível ver o desabrochar das flores do extremo oposto do planeta É possível ver o nascer do sol de onde nunca o vi nascer É possível ver as florestas e sentir exalar o cheiro das coisas tão distantes de onde estou É possível ouvir as vozes e idiomas desconhecidos do meu É possível ver os rostos dos seres em realidades tão diversas da minha É possível ainda que não haja tempo experimentar tudo aquilo que não provei É possível saborear todos os gostos que não conheci   É possível me conectar a todas a pessoas que nem sequer imaginei É possível viver o dia que jamais esperei É possível deixar para trás É possível chegar ao destino É possível compreender definitivamente É possível alcançar completamente Vou inspirar profundamente E exalar o ar até que se acabe Enxergar o

Show de horrores

Tenho andado por aqui já não é de hoje Sempre me trazem de volta e de volta a qualquer lugar... Ao mesmo lugar Comprimo toda a extensão destes anos, dessa infinitude num pequeno invólucro A partir daí a consciência segue a se esquecer, a tornar-se gradativamente medíocre e pequena Apegada e presa, atada a valores e ilusões, venho mentindo estar tudo bem desde então Tapo os olhos para não ver o horror, tenho medo, não posso abri-los e encarar meu próprio rosto Temo as respostas às perguntas que faço, então me mantenho na superfície, adio a descida até as profundezas deste oceano desconhecido Estou sempre ponderando se vou mesmo fundo na verdadeira natureza da consciência a mover este veículo carnal perdido em sua pequenez Descobrir, buscar, aquilo que no fundo já sei, mas escondo para não perder o controle No silêncio profundo desta consciência infinita um aviso emerge de tempos em tempos: Não há como escapar, nem se esconder, você sabe! Este hospício de caminho
 Eu gostaria de me encontrar comigo mesma Em algum lugar fora do espaço tempo E então questionar todos os desejos despertos ao longo do tempo Eu me olharia nos olhos e estes estariam repletos e vazios Seria eu um ser insondável por natureza, se questionando como se isso estivesse em seu código genético Sempre um ímpeto insaciável me draga até os meus próprios mistérios, uma terra desconhecida que nunca consigo alcançar Porque a sonda que envio para dentro do meu ser nunca atinge uma superfície sólida onde possa pousar? E se eu vagar eternamente no espaço como poeira?