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Roça alma, alma torta


Lá na roça eu dormia mais profundo que a cutia
Lá de longe se ouvia melodia caipira

A chuva
A mata virgem
Me embalavam no sossego

Era longe
Era perto
Infinita escuridão

Vaga – lume
Vaga estrela
Brilha o olho da coruja

Pingo d’água
Pingo prata
Que goteja no cerrado

Na minh’alma corre um rio mais escuro que argila
Quanto mais nela mergulho mais profunda vou ficando

Dentro dela eu carrego a tristeza dos cavalos açoitados no trabalho
E o receio das galinhas assoladas no poleiro

Toda torta
Bicho torto
Do pé torto enlameado

Não tem jeito
É recalcada
E já se foi pro atoleiro

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Possível

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Show de horrores

Tenho andado por aqui já não é de hoje Sempre me trazem de volta e de volta a qualquer lugar... Ao mesmo lugar Comprimo toda a extensão destes anos, dessa infinitude num pequeno invólucro A partir daí a consciência segue a se esquecer, a tornar-se gradativamente medíocre e pequena Apegada e presa, atada a valores e ilusões, venho mentindo estar tudo bem desde então Tapo os olhos para não ver o horror, tenho medo, não posso abri-los e encarar meu próprio rosto Temo as respostas às perguntas que faço, então me mantenho na superfície, adio a descida até as profundezas deste oceano desconhecido Estou sempre ponderando se vou mesmo fundo na verdadeira natureza da consciência a mover este veículo carnal perdido em sua pequenez Descobrir, buscar, aquilo que no fundo já sei, mas escondo para não perder o controle No silêncio profundo desta consciência infinita um aviso emerge de tempos em tempos: Não há como escapar, nem se esconder, você sabe! Este hospício de caminho
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