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Dos dias aos dias

Dos dias incríveis que achei jamais fossem findar-se, à beleza da chuva que lhe lambia os ombros cobrindo-os de nódoas prateadas.
Aos dias terríveis em que o tempo parecia um infausto, à aflição de vê-lo partir, de conter-me parada, quando na verdade as pernas imploravam correr-lhe ao encontro.
Dos dias perfeitos em que o sol beijava-lhe a face e dos lábios entreabertos surgia um horizonte luminoso, enquanto permanecia sentado a se aquecer, se soubesse que em meu coração corre seu sangue e que meus sentimentos são tão seus quanto meus...
Aos dias intempestivos em que se ia correndo para alcançar o bonde que lhe parecia fugir, se soubesse que seus pés são meus pais e seus passos meus guias...
Dos dias maravilhosos em que nos sentávamos quietos e nossos olhos nem mesmo piscavam, se soubesse que somos ligados muito além da linhagem genética...
Aos dias malditos que de você me afastei, para uma localidade remota, se soubesse que de você herdei vida...
Dos dias repletos que com você dividi que com você me alegrei que com você gracejei.
Aos dias cinzentos que por você lamentei.
Dos dias jocosos que caminhei ao seu lado.
Aos dias sombrios que nem de longe te vi.
Dos dias aos dias que não sei definir, que não sei revelar, nem ao menos explicar se são seus ou se são meus.
Dos dias aos dias que de meus são só seus e de seus nada meus.



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Possível

Se existe mesmo a imortalidade das coisas é possível ainda ver a chuva do outro lado do oceano É possível presenciar as auroras boreais tão distantes daqui onde o horizonte não alcança É possível ver o desabrochar das flores do extremo oposto do planeta É possível ver o nascer do sol de onde nunca o vi nascer É possível ver as florestas e sentir exalar o cheiro das coisas tão distantes de onde estou É possível ouvir as vozes e idiomas desconhecidos do meu É possível ver os rostos dos seres em realidades tão diversas da minha É possível ainda que não haja tempo experimentar tudo aquilo que não provei É possível saborear todos os gostos que não conheci   É possível me conectar a todas a pessoas que nem sequer imaginei É possível viver o dia que jamais esperei É possível deixar para trás É possível chegar ao destino É possível compreender definitivamente É possível alcançar completamente Vou inspirar profundamente E exalar o ar até que se acabe Enxergar o

Show de horrores

Tenho andado por aqui já não é de hoje Sempre me trazem de volta e de volta a qualquer lugar... Ao mesmo lugar Comprimo toda a extensão destes anos, dessa infinitude num pequeno invólucro A partir daí a consciência segue a se esquecer, a tornar-se gradativamente medíocre e pequena Apegada e presa, atada a valores e ilusões, venho mentindo estar tudo bem desde então Tapo os olhos para não ver o horror, tenho medo, não posso abri-los e encarar meu próprio rosto Temo as respostas às perguntas que faço, então me mantenho na superfície, adio a descida até as profundezas deste oceano desconhecido Estou sempre ponderando se vou mesmo fundo na verdadeira natureza da consciência a mover este veículo carnal perdido em sua pequenez Descobrir, buscar, aquilo que no fundo já sei, mas escondo para não perder o controle No silêncio profundo desta consciência infinita um aviso emerge de tempos em tempos: Não há como escapar, nem se esconder, você sabe! Este hospício de caminho
 Eu gostaria de me encontrar comigo mesma Em algum lugar fora do espaço tempo E então questionar todos os desejos despertos ao longo do tempo Eu me olharia nos olhos e estes estariam repletos e vazios Seria eu um ser insondável por natureza, se questionando como se isso estivesse em seu código genético Sempre um ímpeto insaciável me draga até os meus próprios mistérios, uma terra desconhecida que nunca consigo alcançar Porque a sonda que envio para dentro do meu ser nunca atinge uma superfície sólida onde possa pousar? E se eu vagar eternamente no espaço como poeira?