segunda-feira, dezembro 05, 2011

Show de horrores

Tenho andado por aqui já não é de hoje
Sempre me trazem de volta e de volta a qualquer lugar... Ao mesmo lugar
Comprimo toda a extensão destes anos, dessa infinitude num pequeno invólucro
A partir daí a consciência segue a se esquecer, a tornar-se gradativamente medíocre e pequena
Apegada e presa, atada a valores e ilusões, venho mentindo estar tudo bem desde então
Tapo os olhos para não ver o horror, tenho medo, não posso abri-los e encarar meu próprio rosto
Temo as respostas às perguntas que faço, então me mantenho na superfície, adio a descida até as profundezas deste oceano desconhecido
Estou sempre ponderando se vou mesmo fundo na verdadeira natureza da consciência a mover este veículo carnal perdido em sua pequenez
Descobrir, buscar, aquilo que no fundo já sei, mas escondo para não perder o controle
No silêncio profundo desta consciência infinita um aviso emerge de tempos em tempos: Não há como escapar, nem se esconder, você sabe!
Este hospício de caminho sem volta, ruas sem saída não há nada senão o impossível, a impotência e a fraqueza, alienação, isolamento, uma torre de retenção para enfermos que dormem profundamente no pior dos pesadelos
Estou doente, entorpecida... Quero sair mas não consigo, estou morrendo.... há muito estou morrendo.
Não consigo me mover, é preciso calar tudo ao redor para que possa ouvir o pranto desesperado desta voz que chama, desta mão estendida, deste corpo que pede apoio, deste eu que se afoga numa fachada de afazeres e metas a cumprir, uma realidade pervertida e vazia.
Então sobe um suspiro que vem do íntimo e acredito estar tudo bem. Não está... Tudo não passa de um pesadelo.
Um dia acreditei em tudo que me diziam, aceitei tudo o que me afirmavam, concordei com tudo que me informavam, andei nos trilhos, na medida traçada do possível, me esforcei... Hoje já não é mais assim, não acredito mais no que me dizem, não aceito mais o que me afirmam, nem concordo mais com o que me informam, saí dos trilhos, invadi a medida traçada do possível, pisei na margem, por mais que eu queira não há como voltar a ser o que era, só posso fingir, disfarçar...
Involuntariamente permaneço a me questionar, a buscar as cordas acima do palco a mover esta encenação de títeres. Muitas das perguntas permanecem em segredo, nem todos entendem, então me calo, para que falem as vozes da razão, os donos da verdade, as certezas absolutas, as afirmativas assertivas, as colocações comprovadas, as autoridades inquestionáveis.
Por dentro permaneço a rir deste circo como um louco que esboça um sorriso escrachado no rosto, imagino então minha fotografia exposta no quadro da polícia entre os procurados, crime: Desvio de conduta. Fecham-se as cortinas.

quinta-feira, novembro 24, 2011

Não conte comigo

Certo dia disse como todo e qualquer mortal: “Conto com todos”, “Conto contigo”, “Conte comigo”.
O que mais de tantas ilusões eu disse?
Não conte mais...
Não conte comigo, nem com todos. Não conte mais...
Quando de todas as ilusões, uma sequer tenha valido realmente a pena, não me conte nem comigo conte.
Por um acaso contastes mesmo consigo, com quem quer que seja, sem que lhe postasse uma bela dose de cobrança, acrescido de certa desconfiança, expectativa e medo?
Não conte comigo, não estou aqui para lhe oferecer segurança, estabilidade, previsibilidade, nem para amparar um peso que mal se sustenta de pé sobre suas próprias bases.
Não, este não é um recado ou aviso pessoal, esta é uma realidade que se encaixa ao ser humano.
Não é preciso segurança, nem estabilidade, não é preciso buscar eternamente tais ilusões de estado que a nada levam a não ser ao caos.
Não é preciso depender, se apegar, agarra-se, como um desesperado que se afoga. Não há porque encontrar um porto seguro para de lá jamais sair, se manter constante, sempre o mesmo. Não há necessidade de se ancorar, se apegar.
Não conte comigo para o dever ser, nem para o sonho dourado do amanha, para o sucesso vindouro.
Não conte comigo para projetar o futuro, desenhar ilusões, colorir um apego desesperado pela segurança almejada.
Não é preciso se arrastar em sentimentalismos e emocionalismos para provar do amor, muito deste calor a que chamamos humano não passa de um amontoado entulhado de ideias e afetações medíocres.
As paixões a que muitos se curvam não passam de auto satisfação, por vezes um sofrimento pelo qual se atinge prazer, uma confusão doentia, um conflito inútil do ego. Prisão para a alma.
Escravos da dor, do estúpido vir a ser. Ciclos, idas e vindas, novidades de uma vida que não passa de repetições disfarçadas.
O mesmo se perpetua ao longo dos séculos e no tempo se nutre para tornar-se cada vez mais forte a roda que gira e resvala sempre pelos mesmos caminhos.

quarta-feira, novembro 16, 2011

Limite


Há algum tempo opero no limite. Até onde se estendem as fronteiras que me cercam, entre visão e cegueira, eminencia de emergir. Prestes a submergir de volta ao fundo, ao silêncio eterno dos oceanos calados, onde mal se propagam as ondas de som. Universo infinito a calar o caos insignificante das vidas que aqui se chocam para sobreviver.
Certo dia chorei no caminho para casa, um retorno custoso, certa do cansaço. As lágrimas continham no sal amargo das águas que rolam, um sentido que se afasta dos dramas da vida, da teia de relacionamentos que nos envolvem e aprisionam nas mais obscuras tragédias. Um mundo de milhares de egrégoras, imensos cúmulos a escurecer, entristecer.
Aos poucos a mente que insiste em reger meus movimentos, pensamentos, sentimentos, começa a desvelar o caminho linear e certo da vida, um novelo intrincado, labirinto confuso, um quebra-cabeças que jamais se encaixa. O filme retrocede ao passado e então começo aos poucos a desaparecer, apagar-me diante dos eventos que forjaram uma história de vida.
Pondero sobre a possibilidade de definitivamente apagar os registros que me identificam como parte da vida daqueles que assumiram papéis neste filme da vida e então me desloco do universo onde meu ser significa o que quer que seja para aqueles que por mim passaram, para um em que ainda não emergi como vida assim como a concebemos.
Num mundo de silêncio e observação, sem que haja interferência dos dramas de demasiadas origens, das dores de infinitas naturezas, um eterno entender, uma compreensão que transcende a vida humana se me revela possível, um ser que independente da matéria, pura energia a existir e mover-se infinitamente além do tempo. Além da humanidade. Além da verdade. Além da moral. Além do organismo simples e complexo.
E se pudesse ser além das fronteiras do saber. Além do conhecido. Do experienciado. Do possível.
E se eu pudesse deixar de ser a individualidade de um ser que se difere dos outros neste mundo. E se pudessem cair os muros do que sou, da personalidade que anima este corpo, da singularidade que impulsiona esta vida e se pudesse fazer parar esta mente que tagarela e ofusca a beleza do silêncio.
E se pudesse deixar a transitoriedade para ascender ao que não teve princípio nem há de ter fim.
Aos poucos o movimento foi apagando as milhares de existências e o coração que a pouco se ressentia em deixar e se desapegar, foi-se aquietando e aceitando o desconhecido, ouvindo pacientemente as vozes se calarem, os vultos se apagarem, as ameaças se extinguirem, chamando para si o infinito daquilo que jamais fora experimentado. É certo que as retas paralelas irão se cruzar em algum ponto no espaço. Suspiro aliviada.

quinta-feira, outubro 20, 2011

Um dia

Um dia...
Um dia teremos isso e seremos aquilo e então seremos felizes...
Um dia chegaremos lá...
É sempre um dia,
Um dia que não se sabe qual, porque nos parece longe
Um dia que não é amanhã, nem depois, apenas um dia...
Assim como estes três pontos no final das frases que parecem não querer terminar, ou que parecem querer dizer mais, sem ainda saber o que...
Tudo fica em extenso, nada pousa, por isso nada do que um dia queremos que seja, podemos tocar.
Não podemos tocar esta ilusão, mas podemos vivê-la e, por tanto querer que seja feita realidade, podemos por ela viver e lutar.
Pela ilusão brindamos e torcemos para que um dia... você sabe... quem sabe um dia...
Mas sabemos que a cada passo do tempo, um dia se torna cada vez mais distante, como se de nós quisesse escapar...
Uma poeira no vento, uma fumaça na brisa, soprada cada vez mais para frente...
Enquanto isso nós vamos ficando por aqui, sonhando eternamente com o dia em que um dia chegará para nós, tal qual sombras a esperar pela luz gloriosa do sol.
Hoje o céu permanece nublado, carregado de sonhos, perspectivas, desejos, ilusões...
Um dia quem sabe ele se abra e então teremos alcançado o tão esperado dia.
É sempre muito distante, aquilo que não se pode ter, se não fosse o desagrado dos dias de hoje, quem sabe hoje não pudesse se tornar um dia, aquele dia!

domingo, outubro 09, 2011

Revolução pessoal

Para promover a transformação, a renovação, a revolução, é preciso partir de si mesmo e não meramente de autores, manuais, ideais, opiniões alheias, filmes, professores, cursos, dentre tantos outros. A revolução começa internamente e a partir daí se expande para o mundo externo em consequência da transformação que já explodiu e inundou todo o seu ser que viu com seus próprios olhos a ilusão erguida diante de si como realidade.
Não se trata de concordar ou discordar desta ou daquela posição, não estamos falando em posicionamento, estamos falando daquilo que é. Quando a transformação torna-se o próprio ser, sua consciência se desloca em direção ao caminho da revolução tornando irresistível a mudança a sua frente.
Não se trata de fé cega, crer sem ter experimentado por si mesmo a implantação de uma nova consciência, não se trata de seguimentos nem de aceitação deste ou daquele dogma, colocações e posicionamentos, não há fé nem religião, existem apenas certezas quando visualizamos pessoalmente a realidade que habitamos de um panorama maior.
Não adianta concordar com quem quer que seja, é preciso ver e perceber por si só a ilusão em que vivemos e tudo há de se tornar tão claro que tal realidade torna-se inaceitável. É preciso partir do coração, despido de sentimentalismos, da razão, livre de condicionamentos, atingindo lucidez o suficiente para perceber o cenário erguido e por meio desta percepção abrir aos poucos as cortinas desta grande peça. Então, o que temos como tudo, perde o sentido e abre-se um mundo infinito de possibilidades, do desconhecido pronto para ser explorado por nós mesmos, independentes de opiniões alheias, posicionamentos consagrados, de visões especialistas. A viagem passa a ser trilhada de acordo com nosso verdadeiro ser e não de acordo com o que nos foi imposto ou empurrado goela abaixo.
Um caminho onde somos senhores de nós mesmos, onde temos a capacidade independente e confiante de decidir sem nos basearmos nisto ou naquilo, é preciso conquistar a confiança em nossas capacidades ainda não exploradas, ainda desconhecidas, nos empenharmos no desenvolvimento livre e infinito da capacidade humana em conjunto com todo o resto, em unicidade e não em desagregação. Não há superioridade deste ou daquele grupo, o que existem são seres que fazem parte de um mesmo organismo que só terá desempenho a frente se houver contribuição e trabalho em conjunto ao invés de curvarem-se a divisões inúteis e ilusórias que só fazem senão destruir o organismo em que vivem, não os levando a lugar algum, mergulhando todos em uma panaceia inútil.
É necessário trilhar o caminho para então aderir a causa, a vontade nasce no coração daquele que viu por si mesmo a verdadeira vocação dos seres que herdaram a vida do infinito universo.

quarta-feira, setembro 28, 2011

Num mundo memória

Durmo e acordo tateando no escuro
Num mundo de memórias, apagado e chateado
Brumas cinzentas dos vestígios passados
Um suspiro que morre no peito.
Coração fraco e enterrado, soterrado de ilusões
Desculpe-me a dureza e o peso de meus sentimentos
A escuridão de onde falo, a frieza dessa vida.
Peço compreensão, ainda que não carregue o fardo de sentimentos tão tolos e inúteis.
Como se preciso fosse pedir, já sabes...
Me espere, sei que espera, me espera com paciência infinita e um dia hei de chegar e tocar sua mão.
Por vezes vem e me abraça, quando me estendo até os limites do possível e eis um abraço...
Abraço daqueles que fazem calar tudo ao redor e então deixo de ser apenas eu e sou então...
Num mundo despedaçado e miserável como esse não nos resta nada além de memórias, como verdades absolutas, vontades resolutas.
Aqui acessamos o amor, pequeno pedaço de amor, por meio da memória guardada, prisão do passado, então deixe-me transmitir um pouco, quase nada do que sei do amor, assim através da lembrança, haja o que houver, fique com o melhor que existir de mim e então saberá um pouco mais desta coisa a que chamo amor.
Ao meu filho deixo um manancial de lembranças do dia em que fomos felizes.
Vai junto o amor a todos que já amam e principalmente a quem a muito deixou de amar, para que se lembrem da sensação que é abraçar tudo o que há, deixar-se arrastar pela energia pacífica de um universo infinito e desconhecido a silenciar nossas mentes sombrias.

quarta-feira, setembro 14, 2011

Me perguntaram quem sou, eu disse ninguém

No cais pousa uma alma noturna, eterna e diminuta frente aos dramas nos quais a mente mantem-se embebida.
Uma consciência há milênios adormecida.
Bêbada de ilusão.
Atormentada de vícios.
Confusa frente a grandeza superficial dos problemas que assolam incessantemente a vida humana.
Quão ordinário é o homem que nós somos, de pé no cais.
Um corpo movediço e mortiço, pendendo para cá e para lá, como um barco a deriva.
Erguia ao redor uma tempestade macabra, trovões malfeitores, ventos fora da lei. A lei da vida e do universo de nada vale neste mundo de enganos.
O mar estoura nervoso na praia dos atordoados.
Nos braços carrega o medo, um medo primitivo, resgatado de eras remotas.
Medo que constantemente se renova sobre novas faces, que se atualiza sempre e sempre em seu e nossos corações.
Não é a noite nem o mar, e sim ele quem teme o desconhecido que somente nele e em nós habita e interminavelmente dura alimentado, mais e mais, na medida em que depara-se com o inexplicável de si mesmo.
Falta-lhe (nos) maturidade, mas é já um homem, ancião, vivido e sofrido, vai-se mergulhando cada vez mais nas andanças desesperadas da alma. Uma criança que nunca cresceu, nem quer crescer, pelo menos ainda não. Não agora que prefere mergulhar cada vez mais e mais fundo em ilusões, bebê-las todas de uma vez. Um bêbedo que jamais vislumbrou a lucidez.
Peguntaram quem era, mas não havia ninguém.