Porque esse ciclo?
Você começa e começa muito bem, no papel de uma criança que absorve os ensinamentos que lhe são passados a respeito do mundo e como uma descobridora deste mundo cria seu próprio mundo em meio a brincadeiras.
Daí os pais e as pessoas ao seu redor começam a te influenciar involuntariamente com suas opiniões, crendices e com seus medos, a partir deste momento algo já lhe é roubado, mas não é algo que se possa perceber no momento em que acontece, porque as coisas acontecem com tanta naturalidade, a final sempre foi assim...
É natural lhe roubarem uma parcela de sua liberdade, posto que você sendo uma criança, não possui ainda uma estrutura de caráter formada, portanto não sabe discernir o certo do errado, o bem do mal e assim por diante. Então é necessário que lhe roubem este bem, posto que você não está ainda em condições de decidir por si próprio.
Quem decide o que você não pode decidir, são os que por lei, podem decidir (faz sentido?).
A primeira fase da perca vem repleta de dor momentânea, ou seja, a "birra" que uma criança faz quando seus desejos não são realizados, a dor da liberdade que lhe foi tirada no momento é intensa porque a criança não entende ainda o porque de não poder realizar seus desejos no momento em que sente vontade.
Daí ela passa ao longo dos anos um lento e doloroso processo de perca gradual de sua liberdade, até que se torne madura o suficiênte para entender que a liberdade tem limites e que esses limites devem ser respeitados para que não aja uma punição.
A punição existe para aqueles que não são e não foram capazes de conter suas vontades visando realiza-las a qualquer custo, mesmo que seja preciso passar por cima de uma série de leis e conceitos.
E se todos fossem livres sem regras a seguir? Não isso não poderia ser!
Porque as pessoas são dotadas de naturezas diferentes e sendo assim, quem garante a ordem? Poderia-se questionar o porque da ordem.
A ordem existe por uma necessidade e essa necessidade surgiu de pessoas que tiveram "seu espaço" roubado, essa noção de espaço nem sequer existia, pois as noções surgiram depois, mas havia com certeza o desconforto, algo que não se poderia explicar exatamente e esse desconforto gerava uma necessidade e a necessidade gerou um acordo geral entre os membros de um grupo que se entendiam sobre o efeito do maldito desconforto.
Não se chega a um acordo, não se toma uma decisão ao menos em grupo, assim de forma tão simples até porque como disse as pessoas tem naturezas diferentes, portanto necessidades diferentes, mas através da discussão pode-se chegar a um consenso.
A discussão, a reunião como concebemos hoje não é nem de perto as mesmas de quando as necessidades gerais começaram.
O fato então são as diferenças, desde as mais insignificantes às mais discrepantes, muitas vezes dizemos que o povo é uma massa guiada pelos seus respectivos líderes e que essa massa é totalmente influenciável, pois não possui uma opinião formada e daí uma série de outras carências intelectuais que lhes foram ou não impostas. Mas essa massa não pode ser apenas uma massa única e homegênea, pois dentro dela existe uma série de diferenças e diferenças essas que em suas respectivas realidades são muito grandes.
Um observador distante da realidade que analisa, pode considerar as diferenças como insignificantes, quando na verdade não são, pelo menos não a realidade em que estão subscritos o grupo em questão.
As massas formam ciclos, mas a massa não é um só pensamento, a massa não almeja sempre as mesmas coisas, a massa somos nós, ela é todo e qualquer um. A massa não se distingue, mas nós nos distinguimos e os outros também.
O ciclo se iniciou, não se sabe bem onde e nem quando exatamente. O ciclo de contenção dos desejos, de contenção das vontades, de aspiração para um futuro melhor. O ciclo do sonhar para suportar a realidade, para carregar o mundo que se sobrepõe ao que somos ou ao que gostaríamos de ser, o ciclo da natureza e condição humana.
Acompanhada do ciclo, vem a realidade que dele não se desprende, a realidade é determinada pelo próprio ciclo, mas não só por ele, antes de mais nada é determinada pelas pessoas.
Como pano de fundo temos o tempo que circunda o ciclo e a realidade, mas o tempo foi só uma criação das pessoas assim como a realidade e como se não bastasse temos o espaço em que nos situamos, sem isso estamos perdidos, é o fim ou o começo não sei dizer... Nem sei se somos porque o que nos define é um emaranhado complexo proposto pelo ciclo vicioso, selado pelo tempo e espaço.
Então situados no espaço vagamos por uma série de lugares, em alguns acredita-se que podemos encontrar a paz, a felicidade e em outros já nem tanto, mas o problema é que os lugares são sempre impositivos, tentam sempre nos moldar com o tempo como se fossemos traços em um quadro, os lugares são cruéis com a alma e eles fazem isso a troco de que?
No começo somos livres forasteiros, mas com o tempo você precisa se encaixar como uma peça no quebrar cabeça, para que a imagem não seja danificada.
Você como personagem da cena representada no ambiente em que está, é colocado em seu lugar para que tudo esteja nos conformes e a cena possa continuar em perfeita ordem dentro dos limites do roteiro.
Porque será que almejamos algo tão distante como a liberdade em sua totalidade?
Porque precisamos vencer tantos obstáculos para atingir uma ínfima parcela de liberdade?
Porque os humanos precisam de toda essa teia e ao mesmo tempo sentem vontade de se desvencilhar da mesma?
Até quando a humanidade irá se manifestar?
Me pergunto porque a vida é esse ciclo sem fim.