terça-feira, setembro 06, 2011

Templo do infinito

Se eu me calar para ouvir o som
O som que vibra de dentro
De dentro do meu coração
Não de um órgão, de sangue e carne
De um lugar sutil, quase imperceptível a olhos desatentos
Um lugar e som só meu
Não há início de um lugar nem fim de um som,
Sem que haja um no outro, confundindo-se em um só
Só então comecei a entender verdadeiramente o jargão daqueles que se voltam um pouco mais para a espiritualidade: “Meu corpo, meu templo”.
Volto os olhos para dentro de um templo infinito, ilimitado e destemido
E nada posso ver além da verdade desconhecida,
Sinto então minha alma se expandir para todos os lugares de uma só vez
Cresço tanto que nem sei o quanto, perdendo aos poucos a dimensão do meu tamanho, sigo viajando na infinitude de meu ser e não há lugar onde queira estar além de em mim mesma
Vou me achegando aos poucos a um universo jamais imaginado e então meu templo inunda-se de sensações milhares
Sigo eternamente levantando voo em meio a pousos variados no tempo e conquisto a certeza de que estou viva para sempre
Aqui dentro tudo se aquieta para deixar fluir a verdadeira força que nos move, deixo partir livremente o espirito outrora aprisionado ao corpo, deixo que se manifeste e mergulhe nas energias, onde a razão humana não pode alcançar e vou assim renovando a todo o tempo um ser que muito havia se esquecido.
Vou aos poucos desafrouxando os laços apertados com este mundo de ilusões e dramas diversos, para alçar livre.
Longo caminho a trilhar, milenares medos a vencer, infindáveis dramas a superar, mais a respeitar, mais a me desapegar das coisas e pessoas, mais a deixar para trás vícios e manias, menos bagagem a arrastar.
Vou pelo caminho deixando o peso das coisas, a fim de levantar voo rumo ao templo que em mim habita.

quarta-feira, julho 06, 2011

Débito


Neste mundo assim que nascemos contraímos uma dívida.
E conosco a dívida cresce, indefinidamente, inevitavelmente.
E então somos ao longo de nossa existência preparados para pagar estas dívidas.
Não tivemos a oportunidade de escolher se queremos ou não nos endividar, simplesmente somos forçados a pagar como condição inerente ao nosso ser.
Um pagamento parcelado até o último suspiro de vida.
Ingressamos na escola e somos aos poucos preparados para a vida, que se resume ao mercado de trabalho. Nos ensinam que é preciso trabalhar para que sejamos dignos, para que sejamos “alguém”.
Aos poucos nos ensinam que não devemos confiar em qualquer um, nos ensinam que devemos ter cuidado com o mundo lá fora, nos ensinam a temer e com medo nos entregamos, nos ensinam que devemos ser fortes para suportar o peso da cruz que devemos carregar, devemos suportar as pressões com perseverança se quisermos vencer. Nos ensinam, portanto, a suportar a escravidão docilmente sem jamais questionar o porque disto tudo, afinal, não cabe a nós pobres mortais questionar as coisas que sempre existiram e sempre existirão desta maneira.
Não cabe a nós, pequenos humanos, refletir sobre o que realmente somos, cabe a nós aceitar pacificamente nossa situação, aceitar o mundo como ele é, por mais injusto que pareça, pois o tempo todo tentam nos convencer de que todo esse sofrimento vale a pena, seja porque a religião nos promete o paraíso e libertação após uma vida toda de provações, seja porque o sistema monetário nos promete uma vida confortável e estável, após anos de trabalho incessante, seja porque aqueles que amamos nos fazem querer seguir a diante neste caminho de espinhos, dentre milhares de outros motivos, de outras promessas, de outras mentiras e falácias, tão falsas quanto a vida que levamos, quanto o amor que supomos ter.
Quão rudimentar ainda somos, escravos de um sistema de milhões de possibilidades para se endividar ainda mais e a isso chamamos liberdade de escolha, liberdade para decidir seu próprio destino, liberdade para ser o que quiser, fazer o que quiser.
Nem sequer arranhamos o real sentido de liberdade ainda, nem sequer imaginamos o que isso possa ser, de tão cegos que estamos, de tão escravos que somos, de tão enganados, de tão sedados.
Como pode uma humanidade inteira curvar-se a tamanha mediocridade, deixar-se conquistar por um materialismo paupérrimo, levando uma vida com tamanha incompetência.
Contentando-se com felicidade aos pedaços, entre altos e baixos, como podemos aceitar com naturalidade abusos contra a própria vida no planeta?
Uma vida pobre, quase inútil, despedaçada, fragmentada, apagada.
Achamo-nos especiais? Incomparáveis?
Pois digam-me onde estão as particularidades de seres que aceitaram curvar-se todos a escravidão, a padronização, classificação, uniformização.
Creem que seu modo de vestir é único, seu gosto musical é único, seu estilo de vida é único, pois saiba que milhares de outros vestem estas mesmas marcas, ouvem estas mesmas músicas, levam o mesmo estilo de vida. Tudo o que se enquadra neste sistema falso e corrupto é feito para uniformizar, enquadrar, encaixar peças em um tabuleiro para que toda esta mentira se perpetue.
A particularidade de um ser não se resume a roupas, músicas, estilos de vida, nada disso importa realmente, tudo não passa de uma superfície que se enquadra a um sistema incivilizado. Nada disso revela a potencialidade do ser humano integrado a todos os outros seres, nada disso explora as verdadeiras capacidades dos seres que coabitam o mesmo ambiente, o mesmo planeta, nada disso conjuga a unicidade presente em todas as coisas falsamente separadas e divididas.
Como podemos nos deixar levar assim ao nosso próprio fim tão pacificamente, como podemos nos conformar com toda dor gerada, como podemos legar às gerações futuras, aos nossos filhos, a todos os seres vivos tamanha destruição.
Nosso modo de vida deveria ser motivo de vergonha e indignação e não estagnação e aceitação! Vamos nos levantar, vamos acordar deste pesadelo e começar desde já a reverter a situação, deixar de lado as futilidades do ego, enxergar a diante, remover o véu da ilusão em que vivemos e começar a erguer uma civilização. Nem sequer somos uma civilização, estamos abaixo disso, no fundo do poço, não há mais degraus para descer, mas ainda há muitos para subir.
Porque continuar a rolar na lama em que estamos, porque nos limitarmos a revirar o lixo que criamos, porque nos repetirmos eternamente em erros que tantas e tantas vezes cometemos?
Porque tamanho apego a todas as coisas, não é preciso se prender, segurar, de nada adianta, pois todas as coisas um dia deixarão de serem nossas para serem de outro alguém.
Este sistema precisa acabar, precisa quebrar, é preciso por fim a toda essa ilusão inútil em que vivemos. Cedo ou tarde vai acabar.

quinta-feira, junho 16, 2011

O amanhã

O amanhã permanece em suspenso, porque hoje é o que importa para quem tempo infinito suporta.
A ansiedade, quiçá uma dúvida estúpida sobre o querer ser, sobre o dia seguinte, um futuro limite legado aos iludidos.
Uma só vida entre os temidos.
A natureza mesma das imersões, fascínios e declínios.
O começo de um eclipse, um sol que não nasce nem se põe.
A casa está viva, eis que se move em rotação. Aos poucos, percepção.
Ei-los mortos estagnados, corpos-mentes inertes. Encantados pelas novidades de um mundo que se arrasta e repete. Arrasta e repete. Arrasta e repete. Arrasta e repete.
Ecoa eternamente em diferentes tons.
Caranguejos a arranhar a superfície. Um mito, esperança irrealizável.
A superfície deixo para os tolos.

terça-feira, maio 31, 2011

Acorde

Hei...
Acorde...
Você está me ouvindo?
Consegue me ouvir ai de onde está?
Levante-se
Vamos viajar para longe deste sonho ruim
Vamos caminhar, seguir adiante, deixar tudo para trás
Você consegue me ver?
Consegue me ver de onde está?
Apague as luzes, faz sol lá fora
Você pode andar sozinho? Sem que seja necessário todas estas muletas?
Acha que pode abrir os olhos?
Pode acordar e se levantar?
Foi tudo um sonho...
Um sonho longo
Um sonho ruim
Agora é hora de se despedir
É preciso despertar
Já nos atrasamos demais
Já nos estressamos demais
Já estamos ricos demais ou pobres demais
Estamos cansados demais
Cansados de sonhar
De acumular
Agora queremos viver
Estamos cheios de querer ser, sonhar ser, esperar ser
Agora queremos apenas ser o que já somos
Estamos fadados de querer ter, sonhar ter, esperar ter
Agora vamos devolver, oferecer, manifestar
A hora é agora, vamos nos levantar de nossos leitos amargos e egocêntricos
Vamos nos unir e transformar tudo o que há
Vamos morrer para um mundo em que tudo se acaba e nascer para um mundo em que tudo se renova
Vamos recolher todo o lixo e arrebentar as barreiras de contenção
Deste mundo eu não levo nada,
Não quero nada, nem espero nada
Não há o que se esperar de um lugar como este
Você vem?
Neste caminho não estou só, ninguém está.

terça-feira, maio 17, 2011

A revolta desarmada dos tolos

De repente reinou o silêncio dentro do meu quarto, estava escuro só haviam as luzes externas da rua que invadiam as brechas das cortinas fechadas. Me perguntei que diabo de lugar é esse que vinha me perturbar o sono ou quem sabe não fosse essa força perversa que paira o tempo todo sobre todas as cabeças limítrofes que me quisesse sempre fazer dormir, dormir um sono tão profundo que nem que sacudissem ou tocassem sobre minha cabeça uma orquestra em La maior eu poderia sequer abrir os olhos em despertar.

Me reviro de um lado para outro e reclamo: Não me façam descer ao ridículo mais uma vez! Ao medo zombeteiro e escrachado a que tanto se esforçam para nos acomodar dentro de caixas, prisões para vaga-lumes!

Ah! De novo aquela palpitação, uma sensação de invasão, de novo, de novo e de novo, o mal estar se instalou novamente. Então comigo pensei: Lá vamos nós de novo... Eis os sintomas do mal que se alastrava pelo corpo e mente que não me deixam calar: Vertigem, seguida de um medo imbecil.

Qualquer esforço para levantar-me parecia em vão, contra uma força implacável que me subjuga a um mundo feito de plástico descartável, mais sólido que aço. Eis que estala um pensamento implantado de fora: Ligue a TV e o mal estar se dissipa, a solidão se disfarça, a escuridão se esquiva em meio ao tubo azul de luz, o silêncio se apaga e eis que terás acordado novamente neste mundo a que tanto conheces.

Não! Não irei ligar a TV, cansei-me de ouvir os infinitos disparates, disparados deste aparelho que mais me parece o zunir de uma colmeia de abelhas homicidas. Já basta ter de aturar pela manhã a visão nefasta das intermináveis bancas de jornais vomitando pelo caminho uma diversidade estúpida de assuntos.

Continuam investindo com tanto desespero em minha distração que quase sinto pena deste sistema falido. Confesso que por vezes rio sozinha tal qual fazem os loucos. Nesta sala de detenção de segurança máxima, rio sozinha desta névoa de medo a qual somos subjugados, daqui não é possível enxergar mais nada.

Ahhh! Preciso rir deste conto de fadas! Zoar, zombar! Ah e como funciona, hein?! Me parece um relógio, de tão certo! É isso mesmo pessoal, por dentro estou rindo.
Estou rindo de vocês, rindo de mim, rindo de suas metas, de seus sonhos, de seus exemplos, de seus modelos...
Estou rindo de suas caras, destas máscaras fajutas de papelão. Vamos todos morrer e vejam só as suas caras no espelho, esse pedaço de carne.
Vocês estão levando a sério mesmo? Ou tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto?

Olhem bem para o flagelo vivido por aqueles abaixo da linha de pobreza, veja como isso não nos afeta tanto quanto o piso arranhado da sala de jantar, ou quem sabe as paredes manchadas de gordura. Que absurdo é preciso investir! Claro! Suei a camisa para ter tudo o que tenho, já os pobretões, pobres diabos, não fizeram nada, não conquistaram nada e por isso não merecem nada, pois eles não tem nada e são tão descartáveis quando os objetos da casa.
Morre um, nasce outro em seu lugar, que valor tem quem nada tem? Hã?

Não adianta, senhores e senhoras, não adianta argumentar, seja contra ou a favor desta ou daquela posição, seja politicamente correta, seja egoisticamente manipulada, pois é este o mundo que erigimos e muitos o aceitam de bom grado como sua morada! Um investimento, um futuro garantido, uma promessa de sucesso e toda essa falácia vendida.

Posso até me calar diante de tamanha bobagem, posso ouvi-los gritar aos berros em meus ouvidos que é este o único mundo possível, que é este o nosso lugar, que é esta a nossa natureza e que somente este mundo existe e que portanto, seria impossível sequer almejar algo além disso. Digo aos senhores que estou ouvido esta besteira desde que nasci! Sim, estou pacientemente ouvindo, que o bicho papão esta de baixo da cama, que o palhaço assassino me espera na próxima esquina, que a cuca cedo ou tarde vai me pegar, que o boi da cara preta vai me ferrar, e que o monstro do amanhã está a espreita... São infinitas as idiotices que venho escutando desde então e nestas milhares de armadilhas eu já caí como um pato.

Por vezes a estupidez é tamanha que me privo de dizer uma palavra sequer e me recolho ao silêncio no qual tenho sossego, e então balanço a cabeça e concordo com sandices inúmeras que me vem jorrar na cabeça, aqueles que em tudo creem, só não creem em si mesmos, aqueles que tudo sabem, só não sabem de si mesmos.
Vou aturando, aguentando, suportando, mas acreditando? Ah não! Quanto a isso não lhes posso garantir! Podem falar, palestrar até espumar a boca, mas não vão me convencer a aceitar, não mesmo!
O animal aqui foi aprisionado, acorrentado, mas não vencido! O animal foi comprado, vendido, descartado, reciclado, mas não foi convencido.

Me oferecem a ideia, bonitinha, formuladinha, mastigadinha, prontinha, não preciso nem pensar, não é preciso sequer ter um cérebro para questionar, mas não vou engolir, obrigada, mas não vou aceitar e se estão incomodados pela minha interna e eterna não aceitação, pois que se afastem do meu caminho, pois que me risquem de suas listas, de seus projetos, de seus sonhos, de seus futuros.

Caiam fora da minha frente, pois vou passar como um tanque de guerra por sobre esse muro forjado, não se enganem com o meu silêncio, não se enganem quando me verem dissimuladamente concordar com besteiras para não me estressar, aqui dentro a banda toca ao contrário, o rio corre as avessas, os ponteiros batem invertidos no ritmo do MEU coração.

domingo, maio 01, 2011

Ai...

O que quer dizer essa pulsação?
Esse tremor do corpo
Esse sono profundo
Suspiro moribundo

O que são essas manchas na pele?
Esses ferimentos pequenos
Esse enjoo embolado
Insonia noturna

O que quer dizer esses dedos lascados?
Essa erupção no rosto
Esse vulcão prestes a explodir
Lágrimas das veias

Veneno...
Venenos
Vertendo...

Um corpo embebido em verdades
Ai que nojo me dá
Ai que ânsia me dá

Que mergulho profundo
Ilusão corriqueira
Nuvens a tapar o sol

Ai! Não pode ser!

Um ser sequer
Um dia sequer
Um querer se querer

Não quero!
Não posso querer!
A menos que me venha prometer
Um dia vir mesmo a morrer

sexta-feira, abril 22, 2011

Verão

Do verão faz- me beber
Deste sol faz- me sofrer

Sofrer
Deter
Reter

Dos dias tórridos de domingo
Das tardes tão estúpidas
Limonadas geladas

Estreito os olhos para engolir o horizonte
Está tudo tão claro, oh meus olhos não veem
Meu Deus que balburdia, que fizeram?

Respiro
Degelo
Em meus sonhos, um naufrago

Eu permito
Permeio
Delineio por sobre a superfície espessa e macia do tapete

Rolo
Revolvo a terra com meu corpo
Verme a se esbaldar, dançar, nutrir

Música
Serpente esquiva
Cresce e queima

Paro. Decido.
Não irei mais comer
Não irei mais beber

Paro. Penso. Pondero.
Não quero mais prosseguir
Afrouxo minhas mãos agarradas as suas e as deixo cair soltas no ar, até que se deitem suavemente em despedida sobre um perfil embaçado de quem aos poucos se afasta e perde devagar o foco.

As portas se abrem
Ventania, invasão
Desfalece em esquecimento

Deixe tocar até o final esta canção, deixe rolar até o final esta versão
Deixe morrer esta composição
Deixe-a ser, pois não há de ser nada.