Cenário
Manchado
Cortina
Névoa
Maresia que pousa e repousa sobre as calçadas de Copacabana
Brisa do mar, chicote de veludo no rosto, acalma-me a cruz
O peso dos prédios opostos ao mar, abaixo do céu
Vai se pondo o sol, vão se acendendo os artifícios da noite
Meus olhos distraídos, pousados sobre a maravilha das coisas
Reduz o peso do fardo, da gravidade sobre os ombros, da seriedade da vida
Alguns minutos de elasticidade, flexibilidade, irreverencia
Não...
Agora não é hora de dizer o que é nem o que deve ser feito
Calem-se todos e ouçam o ruído de todas as coisas de agora
Os acontecimentos se desenrolam eternamente em repetição
De veracidade impossível, velocidade um princípio absoluto
O que não cala nos passeios dos entardeceres e amanheceres é o desconforto que sinto diante deste mundo.
Estou delirando, com febre, doente, desconexa
Assumo compromissos, me alimento com saúde, por vezes deslizo, cuido das plantas, dos animais, ainda não há conforto. Há confronto de dentro para fora.
Não consigo me apegar assim como quem salva uma vida, me sinto solta, dispersa, por vezes me agarro, sem forças para me fixar.
Que condição é essa?
Que cidade é essa que não me acolhe?
Que verdade é essa que não me convence?
Estou aqui, mas não pertenço a este lugar.
Luto uma guerra que não é minha,
Partidos dos quais não faço parte.
Memórias do silêncio, do mar calmo e tranquilo
De um céu de domingo, de um beijo que o tempo apartou
Que a vida levou
Das noites de natal
Uma luz se apagou
Outra se acendeu
Então me prove que ainda tenho a mim, ao menos a mim, que não me perdi e que já não é tarde
Me desculpe, mas não posso aceitar...
Não posso...