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Grana


Quero grana porque quero luxo
porque não me contentei
porque não me canso de desejar o que não posso ter e o que não posso ser
porque posso não ser nada nem ninguém
porque me importo
porque por hora não mais me importo
porque sumo de onde não quero estar e apareço onde me convém
porque nada precisarei dizer
porque almejo muito além dos limites impostos
porque meus pés agora não tocam nem mesmo o chão que piso, por sonhar noite e dia
porque meus pés tocarão todos os solos num estalar de dedos
porque quando conquisto, logo me enjôo e saio a procura de algo que me distraia por mais algum tempo
porque não quero nada de sério com a vida, nem ela comigo
porque nada é o suficiente nem bom o bastante
porque sou um poço sem fundo
porque sou imediatista e não posso esperar
porque tenho sede
porque tenho fome
porque não posso parar
porque não quero parar
porque tudo esta além de meu controle
porque quero me iludir
porque quero me enganar
porque quero me comprar
porque me esvaziei
porque as futilidades que tanto luto em dizer que não tenho serão o prato do dia
porque quero mergulhar na estupidez
porque cairei em tentação e em danação
porque acreditarei estar no paraíso, quando em verdade estou no inferno.

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Possível

Se existe mesmo a imortalidade das coisas é possível ainda ver a chuva do outro lado do oceano É possível presenciar as auroras boreais tão distantes daqui onde o horizonte não alcança É possível ver o desabrochar das flores do extremo oposto do planeta É possível ver o nascer do sol de onde nunca o vi nascer É possível ver as florestas e sentir exalar o cheiro das coisas tão distantes de onde estou É possível ouvir as vozes e idiomas desconhecidos do meu É possível ver os rostos dos seres em realidades tão diversas da minha É possível ainda que não haja tempo experimentar tudo aquilo que não provei É possível saborear todos os gostos que não conheci   É possível me conectar a todas a pessoas que nem sequer imaginei É possível viver o dia que jamais esperei É possível deixar para trás É possível chegar ao destino É possível compreender definitivamente É possível alcançar completamente Vou inspirar profundamente E exalar o ar até que se acabe Enxergar o

Show de horrores

Tenho andado por aqui já não é de hoje Sempre me trazem de volta e de volta a qualquer lugar... Ao mesmo lugar Comprimo toda a extensão destes anos, dessa infinitude num pequeno invólucro A partir daí a consciência segue a se esquecer, a tornar-se gradativamente medíocre e pequena Apegada e presa, atada a valores e ilusões, venho mentindo estar tudo bem desde então Tapo os olhos para não ver o horror, tenho medo, não posso abri-los e encarar meu próprio rosto Temo as respostas às perguntas que faço, então me mantenho na superfície, adio a descida até as profundezas deste oceano desconhecido Estou sempre ponderando se vou mesmo fundo na verdadeira natureza da consciência a mover este veículo carnal perdido em sua pequenez Descobrir, buscar, aquilo que no fundo já sei, mas escondo para não perder o controle No silêncio profundo desta consciência infinita um aviso emerge de tempos em tempos: Não há como escapar, nem se esconder, você sabe! Este hospício de caminho
 Eu gostaria de me encontrar comigo mesma Em algum lugar fora do espaço tempo E então questionar todos os desejos despertos ao longo do tempo Eu me olharia nos olhos e estes estariam repletos e vazios Seria eu um ser insondável por natureza, se questionando como se isso estivesse em seu código genético Sempre um ímpeto insaciável me draga até os meus próprios mistérios, uma terra desconhecida que nunca consigo alcançar Porque a sonda que envio para dentro do meu ser nunca atinge uma superfície sólida onde possa pousar? E se eu vagar eternamente no espaço como poeira?