quinta-feira, junho 16, 2011

O amanhã

O amanhã permanece em suspenso, porque hoje é o que importa para quem tempo infinito suporta.
A ansiedade, quiçá uma dúvida estúpida sobre o querer ser, sobre o dia seguinte, um futuro limite legado aos iludidos.
Uma só vida entre os temidos.
A natureza mesma das imersões, fascínios e declínios.
O começo de um eclipse, um sol que não nasce nem se põe.
A casa está viva, eis que se move em rotação. Aos poucos, percepção.
Ei-los mortos estagnados, corpos-mentes inertes. Encantados pelas novidades de um mundo que se arrasta e repete. Arrasta e repete. Arrasta e repete. Arrasta e repete.
Ecoa eternamente em diferentes tons.
Caranguejos a arranhar a superfície. Um mito, esperança irrealizável.
A superfície deixo para os tolos.

terça-feira, maio 31, 2011

Acorde

Hei...
Acorde...
Você está me ouvindo?
Consegue me ouvir ai de onde está?
Levante-se
Vamos viajar para longe deste sonho ruim
Vamos caminhar, seguir adiante, deixar tudo para trás
Você consegue me ver?
Consegue me ver de onde está?
Apague as luzes, faz sol lá fora
Você pode andar sozinho? Sem que seja necessário todas estas muletas?
Acha que pode abrir os olhos?
Pode acordar e se levantar?
Foi tudo um sonho...
Um sonho longo
Um sonho ruim
Agora é hora de se despedir
É preciso despertar
Já nos atrasamos demais
Já nos estressamos demais
Já estamos ricos demais ou pobres demais
Estamos cansados demais
Cansados de sonhar
De acumular
Agora queremos viver
Estamos cheios de querer ser, sonhar ser, esperar ser
Agora queremos apenas ser o que já somos
Estamos fadados de querer ter, sonhar ter, esperar ter
Agora vamos devolver, oferecer, manifestar
A hora é agora, vamos nos levantar de nossos leitos amargos e egocêntricos
Vamos nos unir e transformar tudo o que há
Vamos morrer para um mundo em que tudo se acaba e nascer para um mundo em que tudo se renova
Vamos recolher todo o lixo e arrebentar as barreiras de contenção
Deste mundo eu não levo nada,
Não quero nada, nem espero nada
Não há o que se esperar de um lugar como este
Você vem?
Neste caminho não estou só, ninguém está.

terça-feira, maio 17, 2011

A revolta desarmada dos tolos

De repente reinou o silêncio dentro do meu quarto, estava escuro só haviam as luzes externas da rua que invadiam as brechas das cortinas fechadas. Me perguntei que diabo de lugar é esse que vinha me perturbar o sono ou quem sabe não fosse essa força perversa que paira o tempo todo sobre todas as cabeças limítrofes que me quisesse sempre fazer dormir, dormir um sono tão profundo que nem que sacudissem ou tocassem sobre minha cabeça uma orquestra em La maior eu poderia sequer abrir os olhos em despertar.

Me reviro de um lado para outro e reclamo: Não me façam descer ao ridículo mais uma vez! Ao medo zombeteiro e escrachado a que tanto se esforçam para nos acomodar dentro de caixas, prisões para vaga-lumes!

Ah! De novo aquela palpitação, uma sensação de invasão, de novo, de novo e de novo, o mal estar se instalou novamente. Então comigo pensei: Lá vamos nós de novo... Eis os sintomas do mal que se alastrava pelo corpo e mente que não me deixam calar: Vertigem, seguida de um medo imbecil.

Qualquer esforço para levantar-me parecia em vão, contra uma força implacável que me subjuga a um mundo feito de plástico descartável, mais sólido que aço. Eis que estala um pensamento implantado de fora: Ligue a TV e o mal estar se dissipa, a solidão se disfarça, a escuridão se esquiva em meio ao tubo azul de luz, o silêncio se apaga e eis que terás acordado novamente neste mundo a que tanto conheces.

Não! Não irei ligar a TV, cansei-me de ouvir os infinitos disparates, disparados deste aparelho que mais me parece o zunir de uma colmeia de abelhas homicidas. Já basta ter de aturar pela manhã a visão nefasta das intermináveis bancas de jornais vomitando pelo caminho uma diversidade estúpida de assuntos.

Continuam investindo com tanto desespero em minha distração que quase sinto pena deste sistema falido. Confesso que por vezes rio sozinha tal qual fazem os loucos. Nesta sala de detenção de segurança máxima, rio sozinha desta névoa de medo a qual somos subjugados, daqui não é possível enxergar mais nada.

Ahhh! Preciso rir deste conto de fadas! Zoar, zombar! Ah e como funciona, hein?! Me parece um relógio, de tão certo! É isso mesmo pessoal, por dentro estou rindo.
Estou rindo de vocês, rindo de mim, rindo de suas metas, de seus sonhos, de seus exemplos, de seus modelos...
Estou rindo de suas caras, destas máscaras fajutas de papelão. Vamos todos morrer e vejam só as suas caras no espelho, esse pedaço de carne.
Vocês estão levando a sério mesmo? Ou tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto?

Olhem bem para o flagelo vivido por aqueles abaixo da linha de pobreza, veja como isso não nos afeta tanto quanto o piso arranhado da sala de jantar, ou quem sabe as paredes manchadas de gordura. Que absurdo é preciso investir! Claro! Suei a camisa para ter tudo o que tenho, já os pobretões, pobres diabos, não fizeram nada, não conquistaram nada e por isso não merecem nada, pois eles não tem nada e são tão descartáveis quando os objetos da casa.
Morre um, nasce outro em seu lugar, que valor tem quem nada tem? Hã?

Não adianta, senhores e senhoras, não adianta argumentar, seja contra ou a favor desta ou daquela posição, seja politicamente correta, seja egoisticamente manipulada, pois é este o mundo que erigimos e muitos o aceitam de bom grado como sua morada! Um investimento, um futuro garantido, uma promessa de sucesso e toda essa falácia vendida.

Posso até me calar diante de tamanha bobagem, posso ouvi-los gritar aos berros em meus ouvidos que é este o único mundo possível, que é este o nosso lugar, que é esta a nossa natureza e que somente este mundo existe e que portanto, seria impossível sequer almejar algo além disso. Digo aos senhores que estou ouvido esta besteira desde que nasci! Sim, estou pacientemente ouvindo, que o bicho papão esta de baixo da cama, que o palhaço assassino me espera na próxima esquina, que a cuca cedo ou tarde vai me pegar, que o boi da cara preta vai me ferrar, e que o monstro do amanhã está a espreita... São infinitas as idiotices que venho escutando desde então e nestas milhares de armadilhas eu já caí como um pato.

Por vezes a estupidez é tamanha que me privo de dizer uma palavra sequer e me recolho ao silêncio no qual tenho sossego, e então balanço a cabeça e concordo com sandices inúmeras que me vem jorrar na cabeça, aqueles que em tudo creem, só não creem em si mesmos, aqueles que tudo sabem, só não sabem de si mesmos.
Vou aturando, aguentando, suportando, mas acreditando? Ah não! Quanto a isso não lhes posso garantir! Podem falar, palestrar até espumar a boca, mas não vão me convencer a aceitar, não mesmo!
O animal aqui foi aprisionado, acorrentado, mas não vencido! O animal foi comprado, vendido, descartado, reciclado, mas não foi convencido.

Me oferecem a ideia, bonitinha, formuladinha, mastigadinha, prontinha, não preciso nem pensar, não é preciso sequer ter um cérebro para questionar, mas não vou engolir, obrigada, mas não vou aceitar e se estão incomodados pela minha interna e eterna não aceitação, pois que se afastem do meu caminho, pois que me risquem de suas listas, de seus projetos, de seus sonhos, de seus futuros.

Caiam fora da minha frente, pois vou passar como um tanque de guerra por sobre esse muro forjado, não se enganem com o meu silêncio, não se enganem quando me verem dissimuladamente concordar com besteiras para não me estressar, aqui dentro a banda toca ao contrário, o rio corre as avessas, os ponteiros batem invertidos no ritmo do MEU coração.

domingo, maio 01, 2011

Ai...

O que quer dizer essa pulsação?
Esse tremor do corpo
Esse sono profundo
Suspiro moribundo

O que são essas manchas na pele?
Esses ferimentos pequenos
Esse enjoo embolado
Insonia noturna

O que quer dizer esses dedos lascados?
Essa erupção no rosto
Esse vulcão prestes a explodir
Lágrimas das veias

Veneno...
Venenos
Vertendo...

Um corpo embebido em verdades
Ai que nojo me dá
Ai que ânsia me dá

Que mergulho profundo
Ilusão corriqueira
Nuvens a tapar o sol

Ai! Não pode ser!

Um ser sequer
Um dia sequer
Um querer se querer

Não quero!
Não posso querer!
A menos que me venha prometer
Um dia vir mesmo a morrer

sexta-feira, abril 22, 2011

Verão

Do verão faz- me beber
Deste sol faz- me sofrer

Sofrer
Deter
Reter

Dos dias tórridos de domingo
Das tardes tão estúpidas
Limonadas geladas

Estreito os olhos para engolir o horizonte
Está tudo tão claro, oh meus olhos não veem
Meu Deus que balburdia, que fizeram?

Respiro
Degelo
Em meus sonhos, um naufrago

Eu permito
Permeio
Delineio por sobre a superfície espessa e macia do tapete

Rolo
Revolvo a terra com meu corpo
Verme a se esbaldar, dançar, nutrir

Música
Serpente esquiva
Cresce e queima

Paro. Decido.
Não irei mais comer
Não irei mais beber

Paro. Penso. Pondero.
Não quero mais prosseguir
Afrouxo minhas mãos agarradas as suas e as deixo cair soltas no ar, até que se deitem suavemente em despedida sobre um perfil embaçado de quem aos poucos se afasta e perde devagar o foco.

As portas se abrem
Ventania, invasão
Desfalece em esquecimento

Deixe tocar até o final esta canção, deixe rolar até o final esta versão
Deixe morrer esta composição
Deixe-a ser, pois não há de ser nada.

quarta-feira, abril 06, 2011

A seriedade que não sou

Saudades das aventuras da infância
Da espontaneidade adolescente

Eu que nunca fui fiel escudeira das regras
Nem nunca estive a par dos métodos

O sistema foi aos poucos apagando a luz e
Com os sopros das velas dos aniversários,
Foi se extinguindo as chamas do meu coração

Foi então que comecei a morrer,
A sumir,
A deixar e
Hoje no espelho reflete a seriedade que não sou

Não sou séria
Tampouco levo a sério este mundo
Nem me importo com o que a vida reserva

No fundo sabemos o que será,
Não é mágica, é óbvio
É previsível e está tundo dentro dos esquemas do sistema

Mas eu finjo que espero
Finjo que não sei e que aceito
Me calo, abaixo a cabeça e engulo

E como todos, entro na fila para lugar nenhum.

quinta-feira, março 17, 2011

Cenário

Cenário
Manchado
Cortina
Névoa
Maresia que pousa e repousa sobre as calçadas de Copacabana
Brisa do mar, chicote de veludo no rosto, acalma-me a cruz
O peso dos prédios opostos ao mar, abaixo do céu
Vai se pondo o sol, vão se acendendo os artifícios da noite
Meus olhos distraídos, pousados sobre a maravilha das coisas
Reduz o peso do fardo, da gravidade sobre os ombros, da seriedade da vida
Alguns minutos de elasticidade, flexibilidade, irreverencia
Não...
Agora não é hora de dizer o que é nem o que deve ser feito
Calem-se todos e ouçam o ruído de todas as coisas de agora
Os acontecimentos se desenrolam eternamente em repetição
De veracidade impossível, velocidade um princípio absoluto
O que não cala nos passeios dos entardeceres e amanheceres é o desconforto que sinto diante deste mundo.
Estou delirando, com febre, doente, desconexa
Assumo compromissos, me alimento com saúde, por vezes deslizo, cuido das plantas, dos animais, ainda não há conforto. Há confronto de dentro para fora.
Não consigo me apegar assim como quem salva uma vida, me sinto solta, dispersa, por vezes me agarro, sem forças para me fixar.
Que condição é essa?
Que cidade é essa que não me acolhe?
Que verdade é essa que não me convence?
Estou aqui, mas não pertenço a este lugar.
Luto uma guerra que não é minha,
Partidos dos quais não faço parte.
Memórias do silêncio, do mar calmo e tranquilo
De um céu de domingo, de um beijo que o tempo apartou
Que a vida levou
Das noites de natal
Uma luz se apagou
Outra se acendeu
Então me prove que ainda tenho a mim, ao menos a mim, que não me perdi e que já não é tarde
Me desculpe, mas não posso aceitar...
Não posso...