sexta-feira, março 19, 2010

Pedras

Preciso de alguma leveza
Tudo são pedras,
Cálculos e concreções

As falas forjadas
Cobranças
Estanques

As paredes são grades
As grades espíritos
Figuras pintadas

O silêncio...
O silêncio das horas que passam
Do desejo que esmorece

Cresce, evolui a luta
A vontade se adianta e
Recua o impulso iônico do mar

quarta-feira, março 17, 2010

Cicatriz

Cicatriz,
Corta um veio nas costas
Sulcadas de dor

Marcas,
De um Paraíso opressor
Tirania selvagem

Seu,
Meu,
Deus,

Demônio pagão
Deserto de sal
Ferve e serve

Sílabas,
escassas, secas
Fonte servil

Meu corpo guarda um silêncio infinito de não ditos
Uma ânsia de querer falar e se calar

Um trago, um rasgo
Afago de paixões vilãs

quinta-feira, março 11, 2010

Sonho doce

Como os sonhos são doces.
Escapam às barreias da vida e morte
Realizam o encontro impossível entre o ir e vir
Entre quem ficou e quem se foi
Sopram longe os agouros lúgubres
Num frescor primaveril de um eterno reviver
O acordar, só me deixa vestígios, fragmentos
Uma memória presente, consciente de seu meio tom desgastado,
Passado que se reconstrói continuamente em meu coração
Ciente de que vem a morte, mas de que nela não reside o fim


quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Tantas

Tantas são as coisas
Tantas as escolhas
Imagino que de tantas e tantas coisas
Tantas e tantas escolhas
Quantas não são as mesmas
Então me pergunto
De tantas e tantas perguntas
De tantas e tantas pessoas
Quantas não se perguntam a mesma coisa
Nesse mundo de tantas e mesmas coisas.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Gosto amargo da vida

No breu do porto pousa uma rapariga
Feito mariposa a baixo da luz do píer
Atenta ao sibilo dos sinos
Zunido que jaz no cais

Na orquestra de animais noturnos
Dança o brilho distante dos vaga-lumes
Faróis remotos, supostas estrelas

Uma ventania fria
Sacia o vazio
Acompanha a fuga de uma alma aflita

Lume frouxo, desfalecido
Guia aos navegantes
Nau sem dono à deriva

Vêm de encontro ondas oceânicas
A lamber o píer numa solapada salgada
Fervelhe a boca feito sal de fruta

Recua engolindo limo
Consciência imunda
Gosto amargo da vida

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Concentra-te

Concentra-te apenas no ato de beber um copo de água, seu frescor, seu sabor, deslizando garganta abaixo até o estomago, a calma de um só movimento e num instante o mundo parece parar até que se sorva a última gota d’água a saciar a sede que se mescla a um tempo pacífico e segue esmorecendo a angústia do desejo.


quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Chove

Chove! Chove sem parar acima da terra a se escorrer
Não vejo chover, ouço apenas rumores de sua constância
Sons pausados, alardeados na boca dos outros

Sob a montanha repousa um amigo
Sobre ela brota um cravo, ainda um talo
Sob a chuva que insiste engolir lhe a vida

Sopra uma nuvem embebida em carvão
Esmorece o pranto celeste
Num levante da estrela em chamas

Da terra escorre o labor
O suor dessa dor
Um pudor

Descansa o ardor
O fervor, o calor
Floresce o frescor ao sabor dos sonhos de um amor