quinta-feira, agosto 06, 2009

O Hidrante

Um hidrante quebra na esquina a lacrimejar emoção alheia
Uma porção de fio d’água que se atira do parafuso
Parece frio desviar-se a esquerda privando-se do “objeto”
Ninguém irá agachar-se a atarraxar o parafuso
Analisar a dureza já gasta o cansaço abatido
Plantado na calçada arrebentada
Um estorvo para os apressados
Sapatos inquietos de lá para cá
De cá para lá toc toc toc
Formigas maçarocas
Os olhos bolas de gude de lá para cá de cá para lá feito sapatos apressados
Ora, vamos lá
Para que serve um hidrante?
Como definir um hidrante?
Que função utilidade teria o hidrante na esquina desta vida?
São tantos hidrantes plantados na calçada
Os hidrantes não estão a vista dos pensamentos
São dois daqui à esquina seguinte, três de lá à rua seguinte
São tantos que nem vejo quantos
Hidrantes no nível da rua
Emergência ambulante
Como que brotando das calçadas
Sangram a se esgotar pelo o ralo
Deitado em esquecimento
Vou-me embora
Olho para trás
Lá está ele
Fica o hidrante na rua
Selado na eternidade
Vem comigo em meu caminho
Ainda me lembro
Se é que se pode esquecer...

terça-feira, julho 28, 2009

Polos aparte

Assim que nossos caminhos não mais se cruzarem
Num entendimento elementar
Destoando em cruzamentos
Imagens reversas
Retóricas dissonantes
Haveremos de nos dirigir
Aos polos opostos
Ártico
Antártico
Ao extremo norte sul
Divergindo entre estações
Alternando em dia e noite
Do inverno austral
Ao Sol da meia- noite
Da florada das ideias
Ao declínio das doutrinas
Unidos por oposição
Em partes compostas
Do abrir ao fechar do sorriso
Como as cortinas do teatro
Que ocultam o vazio pano de fundo
Assim deste ou daquele modo
Absolutos e transitórios
Num passar
Num ficar
Num olá
Num adeus
Sem que possamos dizer a distância
Entre nossos pensares pesares
Tudo se faz linhas
Linhas imaginárias
Desenhadas para apartar
Que a tudo tende dividir
Em polos aparte
Onde haveremos cada qual em seu eixo
Erguer observatórios em defesa de si mesmos
Erigir fortalezas em nome de seu isolamento
Haveremos de combater nada além de nós mesmos
Haveremos de abrigar a verdade de nossas ilusões
Haveremos de viver a quimera das oposições
Haveremos então de nos armar, cortar laços
Na eminência das tão sonhadas alianças
A anos luz de nossas essências

terça-feira, julho 21, 2009

Sonhos

Daqueles que se vão
Sonhos perduram no tempo
Dentro daqueles que deles compartilhou
Os sonhos que não afloraram
Viajam para todo lugar
Em arranjos musicais
Tempestades guturais
Fenômenos naturais
Na eterna imensidão
No infinito deste céu
Num sopro vento sul
Em reluzente amor astral
Indo e vindo
Fluído como as ondas
Do início ao fim sem fim

quarta-feira, julho 15, 2009

Olhos

Os olhos tragam imagens desolados
Percorrem assassinos despedaçando, fragmentando
Malditos sejam estes olhos que parecem dizer
Muito além do que digo
Espelhos manchados
Dois pares cruéis disparados no espaço
Esféricos imundos refletem o nada
Assustam com o nada
O nada...
O nada que deles propaga
Acesos em chamas, furiosos sedentos
Inflamados, febris
Caçadores impunes
Capturam destroços
Partes do nada
Malditos sejam...

terça-feira, julho 07, 2009

Mundo Sombrio

Ao som indefinido do mundo componho a harmonia perfeita do que se parecem apenas ideias e por trás desta cortina de fogo vejo escorrer por entre os dedos apenas restos do que um dia tanto reluziu.
Caminhando em passos desconexos, onde impera o reino fragmentado das várias ideias, projeto no chão uma imagem disforme, réplica do que sou.
Minha sombra multifacetal segue meus passos, ouve meus pensamentos dia e noite, me acalenta em seus gélidos braços, no leito onde a esperança me desespera.
Na atmosfera onde tudo se desfaz, não há espaço para a concretude, nem para o equilíbrio, exceto pelo tempo, roda que gira sem cessar, metálica, pesada e indigesta a que estamos condenados.
Mundo sombrio, em sua escuridão me detive, seja por ser inevitável, seja para de longe observar os pequenos feixes de luz que fazem das sombras ainda maiores e da alma uma dolosa nostalgia e esta sem precedentes segue vazia a vagar pelo espaço, terreno inóspito, onde o porvir parece não existir.

terça-feira, junho 30, 2009

Dor

Gosto de ferir-me os dedos
Rasgo lhes a pele
Sugo-lhes o sangue
Um gosto metálico, desagradável
Escorre ardido, dolorido
Mordo a chaga, estanco a fenda
Humor instável
Temperamento sanguíneo
Cravo as unhas na ferida
Provoco incessante
A dor cresce aos poucos
Assim, um pouco mais a cada investida
Sensação mais ou menos aguda
Picadas de vespa
Deixo adormecer a dor para acordá-la novamente
O caminho de volta é um caminho sem volta
A penetrar na pele uma dor que nasce na alma

sexta-feira, junho 26, 2009

Ioiô

Correndo de cá para lá
Matando o corpo em agonia
Bate cansaço, ó meu deus
Passou-se a semana a voar
Bate de cá para lá
Bate no peito agonia
Quando se vê já se foi
Quando se vê já foi dia
Ah que já fora-se o tempo
Ioiô vai e vem
Já se foi