terça-feira, agosto 20, 2024

Como eu posso te alcançar?

Forjei com as pedras uma ferramenta que fizesse encaixar nos meus pés sapatos antigos
Algo capaz de moldar essa coisa que me move pelo tempo e espaço de agora
A muito não chove e desaprendi a nutrir esse ser que me habita
O que faço dessa consciência que ocupa meu corpo?
Para onde devo guia-la?
Será que perdi o ritmo para conduzir?
Meu sinal não chega até ela, nem ela chega até mim
Eu até encontrei o caminho, uma ponte que por vezes surgia
Mas o desgaste natural das coisas que com o tempo se consomem, apagou os passos que eu havia dado em direção a ela
As memórias se confundem com uma fantasia do passado de cores desvanecidas
As palavras antes tão claras agora tão ilegíveis sob um papel a mercê do tempo, minha única percepção de dimensão
O tempo, as cores, as formas, o espaço e os sentidos são meu mundo todo e ele não passa de cognição, sinais elétricos enviados para o meu cérebro
A música, trilha que carregava o campo magnético do meu coração que parecia saber mais que apenas bater, deixou escapar minha alma para fora do corpo
E agora, como eu posso te alcançar? 

quinta-feira, junho 27, 2024

Leitura

 Essa é a hora em que o mundo silencia e além das palavras que sussurram na minha cabeça, posso ouvir o som da minha respiração e do meu coração. 

segunda-feira, março 25, 2024

Poder

 O poder real e absoluto não tem nada a ver com o quanto se pode dominar e conquistar, mas com o quanto se pode expandir e dispersar-se para além de todas as fronteiras. 

quinta-feira, agosto 31, 2023

Me encontrar

Eu gostaria de me encontrar comigo mesma
Em algum lugar fora do espaço - tempo
E então questionar todos os desejos despertos ao longo dos anos.
Eu me olharia nos olhos, e eles estariam repletos e vazios ao mesmo tempo.
Seria eu um ser insondável por natureza, questionando-me como se isso estivesse em meu código genético?
Sempre há um ímpeto insaciável que me arrasta até os meus próprios mistérios, uma terra desconhecida que nunca consigo alcançar
Porque a sonda que envio para dentro do meu ser nunca atinge uma superfície sólida onde eu possa pousar?
E se eu vagar eternamente no espaço como poeira? 

terça-feira, agosto 08, 2023

Possível

Se realmente existe a imortalidade das coisas, é possível ainda ver a chuva do outro lado do oceano.
É possível presenciar as auroras boreais tão distantes daqui, onde o horizonte não alcança.
É possível ver o desabrochar das flores no extremo oposto do planeta.
É possível ver o nascer do sol em um lugar onde nunca o vi nascer.
É possível ver as florestas e sentir o aroma das coisas tão distantes de onde estou.
É possível ouvir as vozes e idiomas desconhecidos para mim.
É possível ver os rostos de seres em realidades tão diversas da minha.
É possível, mesmo que não haja tempo, experimentar tudo aquilo que não provei.
É possível saborear todos os gostos que nunca conheci.
É possível me conectar a todas a pessoas que nem sequer imaginei.
É possível viver o dia que jamais esperei.
É possível deixar para trás.
É possível chegar ao destino.
É possível compreender definitivamente.
É possível alcançar completamente.
Vou inspirar profundamente
E exalar o ar até que ele se acabe,
Enxergar o infinito reverberar em uma frequência desconhecida,
E então, o que acreditei ser impossível, será possível.


quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Mudanças proclamadas

A muito que sentimos brotar a necessidade de mudar. Esta necessidade se tornou quase uma urgência nos últimos anos. Então tornou-se um consenso de que esta na hora de transformar nossa realidade.
Sabemos disso e no fundo de nossos corações ansiamos pelo novo mundo, mas muitos, quem sabe a maioria de nós, não leva em consideração o quão doloroso é o processo de transformação, mudança.
Este processo não é externo, não começa lá fora no mundo, nas pessoas a nossa volta. O processo começa dentro de nós e precisamos entender que este não é algo fácil, agradável, confortável, tranquilo e pacífico.
Este processo é turbulento, doloroso, incomodo, porque ele meche com aquilo a que estamos acostumados, condicionados e educados. Definitivamente mudar não é coisa fácil.
Falar da necessidade de mudar é fácil, é comodo, pois nem sequer iniciamos nossa empreitada. Mudar um comportamento que repetimos a 5,10,20,30, 40 anos torna-se uma tarefa tão difícil quanto escalar o pico de uma montanha, torna-se uma batalha dolorosa e não confortável, para vencer condicionamentos, comportamentos que a anos vamos repetindo.
Uma pequena mudança que seja irá doer, porque ela irá nos tirar do lugar a que estamos acostumados a estar, ela irá remover um comportamento a que estamos acomodados, ela irá nos atirar para fora das paredes que construímos ao nosso redor, irá nos expor além da segurança a que estamos acostumados.
A transformação demanda infinita subtração de valores, comportamentos, segurança, conforto, acomodação, costume, repetição, entrega. A mudança quando iniciada vai removendo um por um, como alguém que arranca pragas de um jardim entregue a própria sorte. A remoção é dolorosa, a desintoxicação também machuca, deixar pra trás um comportamento a anos repetido não é fácil.
A maioria das pessoas está preparada para passar pelo processo doloroso das mudanças, mas poucos estão dispostos a abrir mão de seus vícios, comportamentos, de seu conforto, de sua acomodação, para realmente alçar voo rumo ao desconhecido. Deixar pata trás a mundo a que estamos acostumados demanda grande esforço, causa dor e sofrimento, pois trata-se de uma batalha diária travada em seu interior.
Pense como é difícil mudar, um costume que seja, em você, o ser humano tende, infelizmente, a repetição e acomodação. Digamos que você tenha um vício, seja pelo álcool, remédios, chocolates, cigarros, refrigerantes, cafés (seja o que for), você o repete diariamente durante anos de sua vida, porque está acostumado e por isso torna-se prazeroso, confortável, agradável, isto acalma os ânimos, relaxa, diverte, satisfaz, o faz feliz e assim, aos poucos, vamos entregando nossa satisfação, nossa “felicidade”, nosso divertimento e contentamento a coisas externas, a terceiros, a substâncias, a alimentos, bebidas, comportamentos, etc...
Cada vez mais vamos entregando nossas vidas a elementos externos e então, vamos nos enfraquecendo, nos minando, nos sabotando e passamos a depender sempre deste ou daquele suprimento, desta ou daquela pessoa para nos sentirmos seguros, confortáveis, felizes, satisfeitos.
Aos poucos vamos nos tornando reféns, vítimas, fracos, dependentes, nulos e então nos vemos incapazes de caminhar com nossas próprias pernas, incapazes de promover a mudança a que tanto aspiramos, ansiamos.
Como fazer acontecer? Como promover transformações? Visualizar mudanças, se não somos capazes de mudar nossos próprios comportamentos, se não somos capazes de vencer nossos próprios vícios, derrotar nossos próprios fantasmas, se não nos dispomos a deixar a zona de conforto, se não somos capazes de suportar a dor de modificar o mínimo comportamento que seja? Se não temos coragem em fazer nada sozinhos, porque dói, temos medo e não queremos sentir dor, não queremos sentir incomodo, insatisfação, não queremos contrariar nossos próprios desejos, costumes, repetições, para assumir verdadeiramente o controle sobre nossas próprias ações.
Muitas vezes não temos força de vontade o suficiente para mudar pequenas coisas em nós. Então entendemos que o que queremos não são mudanças, nem transformações, mas a perpetuação do que já somos, do falso conforto, falsa segurança, da falsa previsibilidade, da repetição, dos vícios e manias, das mentiras e ilusões. O que queremos é continuar nos entregando eternamente às fraquezas contra as quais nos negamos a nos levantar.
Chegamos então a conclusão de que o desejo de mudança não era sincero, era falso, uma demanda de ilusões nas quais tanto nos permitimos cair. Uma triste espera de que alguém ou quem sabe algo aconteça e faça por nós o que sozinhos não nos dispomos a fazer, pois afinal, capazes todos somos, porém poucos se arriscam a levantar voo rumo ao desconhecido.
Removemos de nós a capacidade de enxergar que em nossa maioria optamos todos os dias por não fazer a transição.
A dificuldade não deve ser encarada com desânimo, mas como um desafio. Para aprender a voar é preciso se arriscar a cair, a errar e se machucar para mais uma vez levantar-se e tentar, é necessário sair do lugar. Nada é para permanecer.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Show de horrores

Tenho andado por aqui já não é de hoje
Sempre me trazem de volta e de volta a qualquer lugar... Ao mesmo lugar
Comprimo toda a extensão destes anos, dessa infinitude num pequeno invólucro
A partir daí a consciência segue a se esquecer, a tornar-se gradativamente medíocre e pequena
Apegada e presa, atada a valores e ilusões, venho mentindo estar tudo bem desde então
Tapo os olhos para não ver o horror, tenho medo, não posso abri-los e encarar meu próprio rosto
Temo as respostas às perguntas que faço, então me mantenho na superfície, adio a descida até as profundezas deste oceano desconhecido
Estou sempre ponderando se vou mesmo fundo na verdadeira natureza da consciência a mover este veículo carnal perdido em sua pequenez
Descobrir, buscar, aquilo que no fundo já sei, mas escondo para não perder o controle
No silêncio profundo desta consciência infinita um aviso emerge de tempos em tempos: Não há como escapar, nem se esconder, você sabe!
Este hospício de caminho sem volta, ruas sem saída não há nada senão o impossível, a impotência e a fraqueza, alienação, isolamento, uma torre de retenção para enfermos que dormem profundamente no pior dos pesadelos
Estou doente, entorpecida... Quero sair mas não consigo, estou morrendo.... há muito estou morrendo.
Não consigo me mover, é preciso calar tudo ao redor para que possa ouvir o pranto desesperado desta voz que chama, desta mão estendida, deste corpo que pede apoio, deste eu que se afoga numa fachada de afazeres e metas a cumprir, uma realidade pervertida e vazia.
Então sobe um suspiro que vem do íntimo e acredito estar tudo bem. Não está... Tudo não passa de um pesadelo.
Um dia acreditei em tudo que me diziam, aceitei tudo o que me afirmavam, concordei com tudo que me informavam, andei nos trilhos, na medida traçada do possível, me esforcei... Hoje já não é mais assim, não acredito mais no que me dizem, não aceito mais o que me afirmam, nem concordo mais com o que me informam, saí dos trilhos, invadi a medida traçada do possível, pisei na margem, por mais que eu queira não há como voltar a ser o que era, só posso fingir, disfarçar...
Involuntariamente permaneço a me questionar, a buscar as cordas acima do palco a mover esta encenação de títeres. Muitas das perguntas permanecem em segredo, nem todos entendem, então me calo, para que falem as vozes da razão, os donos da verdade, as certezas absolutas, as afirmativas assertivas, as colocações comprovadas, as autoridades inquestionáveis.
Por dentro permaneço a rir deste circo como um louco que esboça um sorriso escrachado no rosto, imagino então minha fotografia exposta no quadro da polícia entre os procurados, crime: Desvio de conduta. Fecham-se as cortinas.