quinta-feira, julho 17, 2008

Semente

Que tola pretensão a minha achar que poderia ajudar aqueles que não querem ajuda...

Mundo tirano! Não, o mundo não é tirano, o problema são as pessoas, que podem fazer um mal danado a si mesmas, aos outros e ao mundo.

Acreditei como uma imbecil, que envergada de palavras e ideias, poderia mudar o mundo; minha ambição nem chegou a tanto, me bastava uma única pessoa, que não se trata de uma pessoa qualquer, e sim aquela que para mim é única.

Em determinados momentos, no calor da palavra, interrompidas pelo soluço do choro, quase implorei para fizessem efeito.
Pedia, mesmo no fundo sabendo não ser o suficiente, que não apenas me ouvisse, mas que ao menos pensasse a respeito.
Pedia para que, por favor, entendesse o que estava a dizer e uma vez mais, por favor, pense no que estou dizendo. Sei que por vezes pensa, mas acho que o que sempre prevalece é a vontade de permanecer imóvel, assim é mais cômodo.

Num primeiro momento veio o êxtase e a satisfação em poder ajudar, pois acreditei ter plantado uma semente e que seria apenas questão de tempo para que a semente se abrisse e gerasse um pequeno broto que fixaria suas raízes na terra e que, no futuro, se transformaria em uma verdadeira árvore.
Várias vezes sonhei com o dia em que me deitaria à sombra dessa árvore, mas a semente não cresceu, por mais que eu regasse, não brotou, então um dia percebi que não me cabe e nunca me coube a tarefa de fazê-la brotar.

Trata-se de uma vida e não posso decidir por uma que não a minha.
Mas nada me impede de plantar a semente, a partir daí não sou eu quem deve alimentá-la, pois ela irá alimentar-se de si mesma e este momento é o mais doloroso porque nunca deixei de acreditar.

A palavra final não é minha, nem mesmo a decisão. A força motriz não sou eu e sim você, o que não faz com que esteja só.
Dê as cartas, faça sua aposta, só não aposte com os meus sentimentos.

No fim, a sensação de impotência é tão grande, me faz tão pequena diante das coisas, não tenho nada, nem mesmo o chão.

Pudera eu não ter plantado, mas plantei, arei o solo e reguei a pequena semente, só não imaginei que a semente seria tão frágil a ponto de não revelar o menor verde que fosse.
Talvez frágil seja você ou quem sabe eu, somos menores que um núcleo de átomo.

O som de minhas palavras se propagou em um imenso vazio e não refletiu em lugar algum.

Dentro de mim sentia-me carregar uma galáxia de microrganismos, células e milhares de partículas banhadas em alguma utilidade maior.
Mas hoje, justamente hoje, sinto-me carregar nas costas uma galáxia de estrelas sem que se possa achar a menor utilidade. Nem sei se é mesmo preciso ser útil, parece até uma obrigação, um pré–requisito para existir.

Alguns creem sacodir o mundo proclamando suas ideias, já outros creem não mover um único grão de areia, mas isso depende de em que você acredita ou deixa de acreditar.
Seria mais fácil mudar o mundo do que a si mesmo ou quem sabe só se possa mudar o mundo mudando a si mesmo, como uma corrente que segue a contagiar todos ao redor.

Não tenho certeza, mas quem tem? Creio que muitos, talvez seja esse o problema ou talvez não...

quarta-feira, julho 16, 2008

Deixe-me

Deixe-me voar,
Flutuar,
Gravitar,
Girar,
Levitar,
Propalar,
Desaparecer no ar,
Rodopiar até me desequilibrar,
Pisar estrelas,
Adentrar as nuvens do céu,
Ser céu, sol, caracol,
Ser alvorada, crepúsculo, sinfonia,
Içar velas para seguir viagem,
Peregrinar em terras encantadas,
Penetrar o paraíso em bem aventurança,
Torna-me luz,
Mas não esqueças de me vir apagar de forma que se faça valer o brilho de um só instante que seja.
Hei de dançar, em passos ligeiros, lentos, calmos, afoitos, equilibrados, desajeitados, ornados, torpes, ousados, receosos, alegres, pesarosos, culposos, sossegados, a acompanhar ardente sinfonia.
Seguem-se aplausos,
Seguem-se vaias,
Segue-se a banda a tocar até o espetáculo acabar,

Hei-me a dançar...
Hei-me a vibrar...
Hei-me a viver...
Hei-me a fenecer...





quarta-feira, julho 02, 2008

Revele

Revele-me seu inferno,
Revele-me seus crimes,
Revele-me seus pensamentos mais vis,
Revele-me suas trevas,
Revele-me seus desejos mais obscuros,
Revele-me a sujeira varrida para baixo do tapete, mas não deixe que esta se espalhe e macule o que realmente és.
Não me venhas mostrar supostas anormalidades de sua personalidade por meio de prantos culposos.
Venha e se exponha seguro de si para além de sua sujeira conhecedor de sua verdadeira natureza.
Que os fantasmas do passado jamais governem lhe o presente e lhe destrua o futuro.
Que seus demônios sejam neutralizados e trabalhem a seu favor.
Que estejas cá presente independente das desgraças que lhe ameaçam o equilíbrio.
Que seus dramas de demasiadas origens verguem-se ante sua liberdade de escolha em levá-los ao topo ou ao cabo.
Ereto, em movimento, soberano de si mesmo.
A realizar a mais difícil das tarefas, você, livre para ser.


quinta-feira, junho 26, 2008

Maria em fuga

Em casa todos dormem…
Sua mente insone se angustia cada vez mais sob a opressão do silêncio.
Levanta-se da cama, procurando o controle da TV.
Madrugada, droga de filme B!
Desiste da TV.
Alarmes acionados, empecilho para os zumbis da noite.
Do outro quarto sonoros roncos ecoam.
Pé por pé desativa o alarme. Os roncos continuam. O caminho está livre.
Veste uma roupa qualquer.
É dado início a fuga.
Desce vagarosamente as escadas. Os roncos permanecem regulares.
Onde estão as chaves do carro? Porque nunca deixam no gancho?
Vai até a cozinha e lá estão sobre a mesa.
Abre a porta evitando ruídos. Os roncos, ainda os ouve. Sinal livre.
Agora a parte mais difícil, levar o carro. A arma do crime. Sem provocar um escarcéu.
Gira a chave na ignição. Olhos fechados. Implora para que a mecânica do som falhe desta vez.
Maldito seja, funcionou e muito bem.
Motor ligado, não há como voltar atrás.
Assim que se afasta de casa sente-se cada vez melhor. Liga o som e perde o rumo.
Duas da manhã. Cidade fantasma.
Maria fumaça. Maria gasolina. Maria em fuga.
Acelera o carro e junto vai seu coração.
Nada mais importa. Está partindo. Toma a estrada.
Estremece, mas não se arrepende, está decidida. É chegado o momento.
Ultrapassa os limites de velocidades e quer ainda mais.
Não há como voltar atrás e nem quer.
Pelo espelho olha para o banco traseiro. Lá está ela, sentada a esperar.
Olhos vidrados. Está em serviço.
Por vezes atende a chamados de emergência. Se ela vem não há como voltar atrás.
No volante sente um frio na espinha. Enjoa. Permanecem os olhos a observá-la.
Está obstinada, chamou e ela veio atender-lhe o pedido.
Pela última vez em sua vida olhou pelo espelho e piscou para ela.
Girou o volante e o fim se dera num piscar de olhos.
A fuga. Ato consumado.

sábado, junho 21, 2008

Dado

Dado na mão, mesa vazia apenas migalhas de pão [rastros ordinários]
Dúvidas [tédio], chove
Mão cerrada, fria, comprime o dado [sopro quente]
Quais as chances? [suspira]
Rola o dado sobre a mesa, desliza na superfície lisa, cai [Pic! Pic! Pic! Pic! Piiiic]
Quica no chão, para.
Quais as chances?
Seis! [sorri]
O tempo se vai a jogar dados [Silêncio]
Chove e o dado é deixado onde está [boceja. Sintomas do início do dia]
E as chances?
Já disse! São seis que se multiplicam por dez e por mais dez e mais dez e mais dez...
[Arrepia. Imagina 6x10x10x10x10 infinitamente]
A chaleira apita no fogo, é hora de tomar o café e se tornar novamente ordinário.

segunda-feira, junho 16, 2008

Senhor...

Senhor?
Haveria o senhor de se despedir quando julgasse não mais suportar a realidade em que nos limitamos a viver.
Há tempos não o encontro, nem mesmo na solidão a que se propôs.
O senhor existe... Não é mesmo?
Ambos sabemos... Não é mais segredo.
Vossa mente perambula num extenso vazio, na esperança de se compreender.
Os pensamentos que lhe percorrem a cabeça, tão leve e pesarosa, são como fogo líquido.
Uma pena... Não toquei solo aberto por tremores febris de vossa imaginação.
O senhor pensa ser dentre todos os seres, aquele a quem se esqueceu e não mais pôde achar-se em vida.
Pode me ouvir?
Devo então perguntar: E se em ti pousassem as esperanças de quem quer que seja?
Vossas idéias percorrem o tempo – espaço e se aquecem se chocam se expandem...
Qual fora mesmo vossa lição?
Força propulsora fora plantada em terreno inóspito.
A chama se fez por combustão de ínfima pequenez, firme e dispersa intensa e moribunda, fenômeno inconstante num giro imprevisível.
Amigo, mestre acompanhe-me sempre, mesmo quando ausente.
Sois filósofo que se assemelha as estrelas que brilham constantes no céu.
O combustível se extingue, chega a morte, mas não o fim.
Vosso caráter estelar se converte num buraco negro que tudo consome ao redor, nele nos perdemos ou nos achamos.
Vossa luz se dispersa no vácuo, mas há de se refletir e brilhar centenas de vezes mais.
Mariposas rondam vosso brilho, girando encantadas, perdidas trombando, insistem até morrerem em meio às ideias.
Meras divagações sobre vós.
Confesso ter acreditado que estivesses aqui ao meu lado.
Meu coração lamentou...
Pensei em orar, mas a muito perdi a fé.
Não me lembro exatamente quando deixei de acreditar, mas sei que foi este o momento em que o perdi.


sexta-feira, junho 13, 2008

Queria estar com vocês

Queria ir, mas tive de ficar…
Só queria passear.
Queria ficar, mas tive de ir...
Só queria me deitar.
Queria lá estar em um jardim a nos sentar.
Queria ali ficar a observar o pôr-do-sol ao lado de vocês.
Queria adiante caminhar e conversar com vocês bem cedo assim que o sol nascer, em um lugar cheio de encantos simples, apenas meus e seus.
Queria voltar e me aconchegar ao lado de vocês em uma noite qualquer a ver estrelas e cantar.
Queria na sexta-feira junto de vocês colher frutos no quintal.
Queria no domingo canoar com vocês, todos calados a sonhar.
Queria com vocês acalentar o coração e sorrir não no futuro, mas num exato momento.
Queria com vocês apenas o presente do presente.
Queria estar...
Estar apenas com vocês...
Vocês sabem quem são...
E sabem que era mesmo isso o que eu queria.