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Dédalo purgatório II


Invólucros vazios
Desprovidos das mais ávidas paixões
Dos ímpetos de empenho
Do interesse natural
Pela sedução das maravilhas
Existe sede
Existe fome
Em mergulhar profundamente
Procurando desviar
Ponderando se entregar
Em sofrimento prolongado
Que se estende pelo corpo
Colérico e cansado
Uma vontade corrompida
Deveras falseada
Forjada em satisfação
Pagamento haja vista
Mentiras creditadas
Falhas parciais
Modelos imprecisos
Consubstancia
Fatos e impressões
Nada além
Do que está além
Do dizível e visível
Apenas crível e viável
Em eterna insatisfação
Terra ávida e incessante
Donde as buscas não têm vim
Numa esteira sempre constante
Uns se erguendo
Outros caindo
Em rios caudalosos
Muitos corpos se entregam
Às correntes traiçoeiras
Haverão todos de pagar
Pelo desejo, pelo ensejo
Controlando seus humores
Refazendo seus caminhos
Desfazendo seus enganos
Expiando suas culpas
Neste Dédalo Purgatório
Aos poucos se achegando
Sem que haja dúvidas
Tudo a seu tempo
Um tempo que seja seu
Desconhecido do relógio
No qual pobres diabos se apegam
Venha...
Se achegue
Num tempo somente seu
Se entregue
Mas que seja primeiro a si mesmo
Amante a unir-se num só
Hás de compreender
Que estás além da fome que te atormenta
Da sede que te mortifica
Hás de compreender
Que não há tempo algum
Em que se possa contar nem conter
O que somos
E então hás de chegar antes que te possas notar

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Se existe mesmo a imortalidade das coisas é possível ainda ver a chuva do outro lado do oceano É possível presenciar as auroras boreais tão distantes daqui onde o horizonte não alcança É possível ver o desabrochar das flores do extremo oposto do planeta É possível ver o nascer do sol de onde nunca o vi nascer É possível ver as florestas e sentir exalar o cheiro das coisas tão distantes de onde estou É possível ouvir as vozes e idiomas desconhecidos do meu É possível ver os rostos dos seres em realidades tão diversas da minha É possível ainda que não haja tempo experimentar tudo aquilo que não provei É possível saborear todos os gostos que não conheci   É possível me conectar a todas a pessoas que nem sequer imaginei É possível viver o dia que jamais esperei É possível deixar para trás É possível chegar ao destino É possível compreender definitivamente É possível alcançar completamente Vou inspirar profundamente E exalar o ar até que se acabe Enxergar o

Show de horrores

Tenho andado por aqui já não é de hoje Sempre me trazem de volta e de volta a qualquer lugar... Ao mesmo lugar Comprimo toda a extensão destes anos, dessa infinitude num pequeno invólucro A partir daí a consciência segue a se esquecer, a tornar-se gradativamente medíocre e pequena Apegada e presa, atada a valores e ilusões, venho mentindo estar tudo bem desde então Tapo os olhos para não ver o horror, tenho medo, não posso abri-los e encarar meu próprio rosto Temo as respostas às perguntas que faço, então me mantenho na superfície, adio a descida até as profundezas deste oceano desconhecido Estou sempre ponderando se vou mesmo fundo na verdadeira natureza da consciência a mover este veículo carnal perdido em sua pequenez Descobrir, buscar, aquilo que no fundo já sei, mas escondo para não perder o controle No silêncio profundo desta consciência infinita um aviso emerge de tempos em tempos: Não há como escapar, nem se esconder, você sabe! Este hospício de caminho
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