Acordei e senti que nada havia mudado tudo se repetia. Todos pareciam serem os mesmos, de horas e milênios atrás.
Eu queria gritar, minhas mãos tremiam, meu corpo estava cansado, talvez não só ele. Imaginei-me caminhando em um imenso jardim, repleto de flores, todas elas repletas de vida, que por sua vez repletas de alma.
A imagem foi se dissipando, as cores misturavam-se, não conseguia mais distinguir entre uma e outra.
As flores se uniram gerando uma só flor que continham todas as outras em seu ser. Ela brilhava como o sol no zênite, pude então perceber que possuía milhares de pétalas e que em cada pétala havia um espelho que refletia centenas de imagens iguais a sua. A unidade continha em si a multiplicidade.
Pareciam idênticas, mas se me aproximasse um pouco mais veria que são únicas, não podendo haver outra igual.
Arranquei-a da terra e contemplei sua beleza, pude senti-la, pensei poder tê-la comigo para sempre, mas senti que algo nela fugia ao meu controle, seu bem mais preciso, era sua vida que se esvaia em minhas mãos.
Isso eu não poderia deter, ela estava partindo para além de meu ser.
És minha, pois do contrário não desabrocharia.
És minha, mas foge ao meu entendimento.
És minha, mas não me pertence.
És minha, mas ultrapassa meus limites.
És minha, mas ascende a um posto que não poderei tomar.
És minha, mas caminha onde meus pés jamais poderão tocar.
Afirmo-te seres minha, mas não o és.
És alma e a ninguém pertencerás.