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Mostrando postagens de janeiro, 2010

Não há nada

Não há estrofes nestas poesias Não há métrica nesta minha vida Não há conto neste meu dilema Não há drama nesta minha paixão Não há gênero, nem estilo Não há lira, nem lirismo Neste mar de sabe nada Não há truque nem retoque Não há nada neste fado É um ruído, uma voz Um tom e um som No embalo desse timbre.

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Deita-se o mormaço por sobre o asfalto da cidade Um som abafado de guitarra permeia a noite Emitido de um pub barato, cheira a pinga de esquina Num solo ecoa pelo silêncio dramático da escuridão Invocando a solidão dos becos, dos desamparos Bafejam gazes venenosos dos bueiros, expelindo insetos, injurias Ateando fogo nos corpos à mercê do cenário de horrores Partículas ardentes que soltam de si as matérias em combustão Morada dos justos, estilo hodierno, corpos revestidos de crómio, corações de uretano à prova de quedas, riscos e solavancos. À prova de vida, condições desumanas. Suas almas rechargers perecíveis, suscetíveis à esteira do tempo, condenadas, obsoletas Delas sopra uma trilha, sonora emoção, lenda, paixão humana a resistir em meio a artifícios, fogos forjados, desejos moldados, num rio metálico, pesado, vergado, compadre nocivo Um suspiro afoga a todos nós, um chamado, uma cura, um destino implacável, sê forte, sê duro. Pois haveremos de ser, padecer e per

Passando

Não se assuste assim Não se apresse assim Não se desespere assim Assim tudo passa tão depressa Assim tudo é passado Vá com calma Um passo de cada vez Os passos vão passando Passeando e se tornando passado Eu digo e o que digo se passou Tudo vai passando e passado virando O passado vai crescendo e passando As saudades vão crescendo e ficando Tente não se preocupar, nos veremos adiante Leve apenas o que precisar e nos veremos um dia Deixe passar, para seguir em frente e passar adiante Lembre-se, pois isso irá passar e então seremos lembranças Seremos lembrados, seremos passado, seremos saudades Seremos eternos, seremos o perfume da noite, o arrepio febril, a nudez das árvores, a brisa do mar, o calor do verão As gerações que se passaram e deram lugar àquelas que irão passar Estaremos em todo lugar, assim como o passado que carregamos e que nos vai levando do presente para o futuro, numa locomotiva a viajar, num balão a voar Um olá vem trazer e um adeus vem deixar, p

Sonho

Sonhei que era noite e que a chuva ameaçava cair, então pensei em correr até lá fora para ver a água cair. Estava tudo tão quieto, apenas o barulho do vento que trazia a chuva e na escuridão as luzes da calçada dançavam sozinhas isoladas cada qual num círculo apartado. Lembrei-me de que no passado as copas das árvores cegavam as luzes dos postes. No sonho, passado e imaginação se mesclavam e criavam um cenário perfeito como sempre sonhei que seria minha casa, meu lar, meu lugar, mas é apenas um sonho, o meu lugar é apenas um sonho. Nele as coisas flutuam leves no ar e num salto vou de um pavimento ao outro, nele o tempo inexiste e é noite ou dia, basta querer. Subi até o topo da imaginação e chamei: Pingooooooooo Do outro lado, quem era aquele que olhava assustado? De cá, quem era a moça que chamava no escuro? No sonho posso ver quem quer que seja, nem que seja para dizer adeus. Chamavam-me ao telefone, mas não havia ninguém do outro lado da linha, era apenas uma expectativ

É noite

É noite e ando só Não há nada além do silêncio Do frio que sopra devagar Me despertando de um sono eterno O céu desenha um tempo passado Tudo ao redor existe Meu coração cavalga a galope Tudo é O universo me toca e me toma Me consome de uma só vez De mim irradia calor, é infinitamente humano Uma paixão negligente, insensível a dor, Deseja se confundir Numa só chama se dissipar Num descuido, em descompasso Meu corpo plena luz a queimar, consumindo a escuridão Quero dançar absoluta nos limites do tempo, estou apaixonada, determinada É tão grande que não posso conceber, peço perdão, quero de tudo me desvencilhar Os laços rijos do tempo me arrastam de volta, violento, sonoro de volta ao vazio À ausência, à escassez, à sede infinita, insaciável cortejo do tempo A ordem do tempo se cumpre, mais um ciclo se encerra E lá se foi o tempo na noite a voar...