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Mostrando postagens de outubro, 2009

Agora

A noite chegou E com ela veio o silêncio dos dias de domingo Algumas pessoas falam na calçada O relógio é uma arma apontada para minha cabeça Desvio o olhar, não quero pensar no amanhã Quero o agora, a quietude do instante, a leveza do presente

Pressão atmosférica

Meu olhar se alinha entre as grades de ferro para ver o tempo chegar. A beleza que apreendem é a beleza do mundo que se estende além dos prédios da cidade. As nuvens viajam pesadas, pairando acima das montanhas rochosas, vêm confirmar a previsão meteorológica. Estou ainda na fronteira entre o previsto e a evidência, o fato segue independente das fronteiras do saber. Olho a paisagem tentando não traduzi-la em verdade, deixo prevalecer as sensações que os olhos não concebem, e então, sinto o dia virar noite. A cidade perde seus contornos projetados em linhas retas, curvas sólidas, abrindo espaço à imensidão do mundo e o frenesi concreto revela sua insignificância. Carne humana, ruído mecânico, brisa mista de gazes tóxicos, confinados em uma panela de pressão. No silêncio irrompe o grito da multidão, matéria bruta convertida em mercadoria. Impassíveis, utilitários, aparentemente saborosos, servidos prontos para o consumo. Aqui tudo acontece sob a lei da pressão atmosférica, lá f

Sono

Era noite e nossos olhos quase fechavam Chovia e nossas bocas calavam O mundo acontecia lá fora Pessoas sorriam, corriam, se escondiam E em nós morava o silêncio infinito O sono pendia sobre nossas cabeças A respiração varava o peito Ungia-nos o calor da concórdia A quietação dos ânimos Duas almas pachorras Sossego nos quartéis e conventos Rogamos para que fosse justo E então nos entregamos em paz

Centelha

Brilho celeste Fogo azul do céu a cair Desliza silente o espaço fluído Até tocar num estrondo o solo Se expande num clarão, feito flash a cortar o chão E o estouro se mescla a tremores terrestres Condução do céu a terra Nuvens alta voltagem A vibrar, a chorar, a regar A vida vem trazer Do infinito às fronteiras do meu breve olhar Então a imensidão dançou diante de minha insignificância E tocou a canção de um tolo coração, miserável a chorar

Sonhei

Ontem sonhei com os milhares de dramas que permeiam a vida. Em meio a inutilidades vis, preocupações meramente aparentes que se repetiam num circuito infinito. Num mundo em que tudo pesa e o fardo cresce num feixe de doze estribas. Baixei guarda, deixei-me o corpo conduzir, rumo às vontades voláteis. A sede e fome de cada dia, quando o que queremos é saciar o infinito, conquistas em débito eterno. Quando me volto para olhar tenho tudo acabado, num rumo outrora traçado vejo a estrada se adensar, vejo o tempo chamar, e o que vi foi a todos subir a bordo de minha lataria pesada, negra, reluzente a luz de um dia revolto. Vagando num pensamento fantástico, maravilhas vazias num coco seco, nos aventurávamos num céu em chamas e o coração na mão, o perigo nos trazia de volta à realidade forjada. Até que cada qual decidiu abortar sem norte, em profusão, a rosa-dos-ventos se rasgou e o sonho se achegou ao despertar. Já era hora... Já era hora de acordar.