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Mostrando postagens de abril, 2009

Cruzamento não paralelo

Confesso, queria tê-la como inimiga Seguir-te os passos até o inferno Caçar-te na multidão Ávida de teu sangue Prestes a derrubar-te Queimar em ódio ácido Na eminência de destruir-te Fazer de um estúpido desejo O sentido de nossa existência Superar-te diante de teus olhos Dominar-te os pensamentos Causar-te insônias incuráveis Úlceras gástricas Secar-te a boca Gelar-te da cabeça aos pés Imputar-te os mais sujos desejos Envolver-te o pescoço Privando-te lentamente do ar Tirarem-te das órbitas os olhos Rasgar-te a pele em pedaços Engolir-te completamente Insuflar-te tremores e choques Remover-lhe a consciência Lançar-te longe contra o espelho Ouvir-te cair despedaçando tua imagem Fazer-te gritar, urrar, sussurrar Privar-te dos sentidos Prensar-te contra a parede Rir ante teu rosto perplexo Levar-te a falar, detonar Sorver-lhe o fôlego Puni-la e perdoá-la Venha! Levante-se! Golpeie-me para longe! Lute! Lute comigo Quero lutar com você Apenas com você

Sublime Nebulosa III

Seus passos quebram o silêncio de sua presença Reflete a luz de toda e qualquer estrela Elevada à última potencia Propaga a natureza das coisas Derrama a verdadeira essência do ser Alimenta todas as terras, todos os céus, todos os mares, todos os fogos Ergue-se pleno de tudo o que é Indefinível Éter, sangue, seiva Alma, cosmo, Sol, estrelas Galáxia, corpo celeste Partícula, gota d’água Molécula, átomo Fagulha, célula, núcleo Elevado à liberdade desconhecida Além do olhar angular Da saliva sedenta Do desejo cruento Das vontades linfáticas Do orgulho corrompido Da dor e prazer Do medo perverso Do tempo e do espaço Da verdade e da mentira Do bem e do mal Da vida e da morte Do céu e do inferno De deus e do diabo Ser sublimado em absoluta unidade Desmembrado em infinita multiplicidade Seus pés que outrora caminhavam Mansos, tranqüilos Agora correm, deslizam Não há limites Não há barreiras Irradiam transcendente grandeza Voam além deles mesmos E vão pa

Dédalo purgatório II

Invólucros vazios Desprovidos das mais ávidas paixões Dos ímpetos de empenho Do interesse natural Pela sedução das maravilhas Existe sede Existe fome Em mergulhar profundamente Procurando desviar Ponderando se entregar Em sofrimento prolongado Que se estende pelo corpo Colérico e cansado Uma vontade corrompida Deveras falseada Forjada em satisfação Pagamento haja vista Mentiras creditadas Falhas parciais Modelos imprecisos Consubstancia Fatos e impressões Nada além Do que está além Do dizível e visível Apenas crível e viável Em eterna insatisfação Terra ávida e incessante Donde as buscas não têm vim Numa esteira sempre constante Uns se erguendo Outros caindo Em rios caudalosos Muitos corpos se entregam Às correntes traiçoeiras Haverão todos de pagar Pelo desejo, pelo ensejo Controlando seus humores Refazendo seus caminhos Desfazendo seus enganos Expiando suas culpas Neste Dédalo Purgatório Aos poucos se achegando Sem que haja dúvidas Tudo a

Magma infernal I

Neste magma infernal Poderíamos cozinhar De uma só vez derreter Agonizando em meio a lavas Mentiras e ilusões borbulhantes Mas vamos perecer em fogo brando Morrer em banho Maria Espinheiras dançam no vendaval Roçam-nos os corpos Tiram-nos o sangue Que percorre em linhas tortas até o chão Terras tórridas Amaldiçoadas De rosáceas venenosas E vapores sulfurosos Carnicões fazem caminho Via reino virulento De serpentes peçonhentas E insetos agressivos Túrgidos pulmões Aspiram asfixiados Vamos todos arrastando Como vermes na carniça Sucumbindo neste inferno De nada adianta se esquivar Vêm chegando Vêm chegando Os demônios do relógio Apressados como nunca Mais perversos que suas vítimas

Na chuva

Nesta noite maravilhosa e miserável Em que andam a escorrer pelas calças água da rua Sapatos sovados de lama Pisam e murmuram coaxos de sapo Em penúria embriagados de chuva Ó meu deus, porque tanta carreira? Já não sabe tragar céu aberto? Para que tanta espera Pendurado à marquise estreita? Vai a solavancos se esgueirando entre as esquinas Pobre diabo! Só chão para te aquecer Terra chã para se esquecer Só vai ele, depauperado A levar chuva no lombo Escoando a miséria humana Ó e no passado Num tempo em que não havia a estreiteza do olhar O selvagem na chuva valsava Civilizou-se no medo e bom senso Precipitando-se acima das poças Resvalando em sofrimento Atalhando a morte Um tempo que não vira nada Um tempo que só influi Deságua abaixo do céu

Nevasca

O arrasto das rodas me aterroriza Flocos de neve debatem-se Uivam lá fora Ah, por Deus, não posso parar A paisagem irá me engolir De um branco angustiante Maldita ilusão em cartões postais Lembro-me dos enfeites de natal De como são reconfortantes Do calor que transmitem Em datas especiais Salpicados em branco plástico Mantenho a perspectiva Desde o começo procurei um suporte Ancorando-me em memórias Mas este porto é tão remoto Como pesa o ar aqui dentro Um carro dança no gelo As correntes tilintam A cada avanço na estrada Um recuo do sol Crepúsculo perverso Vem a galope Arauto funesto Gelando-me o sangue Exaurindo-me as força Um suspiro escorrega Da garganta profunda

Mundo

Mundo Toque Toque para mim sua canção Mostre Mostre para mim a sua luz Diga-me Diga-me tudo o que você tem a dizer Não se esconda de mim Dance Dance sua música para mim Leve-me Leve-me embora para todo lugar Abrace-me Abrace-me forte Fale comigo em sua língua Em todas as línguas que você aprendeu Em todas as línguas que você ensinou Em todas as línguas que você experimentou Mostre-se para mim Mostre-me seu verdadeiro potencial Mundo, você é meu mestre Você é meu pai Minha mãe Meu irmão Meu amante Mundo mostre-me tudo o que você é Não se esconda Seja tudo o que você realmente é Então, depois escolha o que é melhor Ser o que você é Ou ser outra coisa O que é melhor? Viver morrendo Ou simplesmente viver Mundo Diga-me O que você pensa? O que há de errado com você? O que há de errado conosco? Com você e comigo Com você e todos nós O que há de errado? Como você se sente a respeito de tudo? Mundo mostre-nos o mundo como ele realmente é