Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2008

Colorindo

A cada abrir e fechar de olhos, algo novo surge, numa corrente elétrica perpassando o espaço sem se apoiar em condutor de espécie alguma Os olhos pintam cores de beleza ímpar, decodificadas fantasiando a realidade As cores se dispersam Se concentram Contorcendo-se Misturando-se Num foco desfocado, brincam e dançam Lançam-se lentas, velozes Deslizam lambendo toda a superfície em pinceladas deliciosas Num turbilhão maquiam meu mundo, minha realidade De perto são cada vez mais cores, mais flores, pintores Azul profundo, tranqüilo, num demorado suspiro Faz-me sorrir, com os olhos, dois brilhantes pincéis Ou quem sabe chorar, colorindo-me de emoções As nuances me acolhem, me abraçam Num território matizado de gradações multicores Beijam-me os olhos nutridos por contrastes As cores revelam-se Desnudam-se Confiam-se a mim em meu jogo tingido, pintado de cores Os olhos funcionam assim como uma droga, que ilude, distrai Almejam o belo com um sentimento ag

Enxaqueca

Rastros de um mal encefálico Dor aguda que saltita entre altos e baixos No ápice espeta Pressiona as têmporas, intermitente Deixa os olhos sensíveis às gradações de luz Os ouvidos sensíveis a sons dissonantes Tensões tendenciosas, o melhor é o silêncio Queda livre em dor perene, nada pode amortecê-la Dor esquiva ao toque alheio, não quer nada nem ninguém Projeta áureas reluzentes pairando no ar O humor logo se altera mais insociável que o normal Não se pode olhar para cima Com um chumbo prensando o topo do crânio Nem para frente se pode olhar Com uma placa metálica chapada na fronte Mão tola, impaciente que nada parece querer segurar Visão nevoada, anuviada torna-se menos confiável Vertigens e enjôos desequilibrados Os passos são lentos e insensíveis As cores se multiplicam Os cheiros se atenuam O ar se rarefaz E é ela a chegar... Batendo-me a porta Da cabeça aos pés Enxaqueca!

Estamos quase lá...

Somos tão parecidos Por vezes, quase iguais Quase... Nossas almas que parecem girar perdidas Quase tão perdidas quanto eu e você E somos assim tão semelhantes Mesmo “material” Com uma essência que quase nos escapa Assim quase próximos Sempre e quase os mesmos Mas sempre nos separam Nos distinguem Nos classificam Nos dão nome Nos posicionam Nos isolam Mas sabemos que estamos unidos, seja como for, não é bem assim que nos vêem, não é mesmo? Na verdade permanece um abismo entre nós, mas nele decidimos que estaremos de mãos dadas Quase não sabemos o quão especiais, nem o quão simples e ordinários somos E somos mais do que isso, não quase, mas sempre Estamos quase lá... Estamos quase lá... “ Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito ” - Albert Einstein

Caminhando só na noite

Passos distantes quase abstratos Deslizam no asfalto Negro superficialmente brilhante Reflexos difusos tais como pensamentos Espalhados, deixados no chão Afastados do ruído Dos estalos dos brindes Dos talheres pousados sobre a louça Das vozes sobrepostas Das risadas vibrantes Das mesas repletas Das orquestras sinfônicas das reuniões Por vezes suaves agradáveis Por vezes secas insuportáveis Seja como for, os passos se vão cada vez mais longe Mergulham num prazer quase que por necessidade de estar só Rumo à brisa descompromissada Rumo ao inevitável frescor e torpor Tão precisos Tão queridos Íntimos e próprios E quem sabe o que irão encontrar logo à frente? Se for a lua em céu estrelado Quem sabe refletida sobre negras águas Se forem as luzes artificiais sombreando-me os passos Se for o vento a levantar-me os cabelos fazendo-me cócegas Se for o vento a levantar-me as vestes causando-me arrepios Se for a noite que a mim se entrega num leito de negro cetim Se f

Nós e os "outros"

O que mais decepciona é ver que para fazer com que as pessoas cooperem em não destruir a natureza, o planeta, é ter de convencê-las de que isto será bom para elas, de que isto irá propiciar a propagação da espécie humana, será bom para as gerações que virão. Será mesmo que para fazer bem a algo ou a alguém, precisamos fazê-lo somente porque isto nos faz sentir bem diante de nossa ação nobre? Porque nos faz sentir uma pessoa melhor, nos faz acreditar que fazemos a diferença, dentre outras coisas? Será que devemos nos engajar em pró de uma causa apenas porque ela nos servirá no futuro?Nos fará bem, nos fará melhores? Será que as coisas não têm um valor em si mesmas? Um valor independente de nós? Exterior a nós mesmos. Vamos assumir que as coisas existam independentemente de nós e que existam não apenas para nos servir. Vamos admitir que o mundo não gira ao nosso redor, vamos admitir que este mundo que criamos como nosso, as custas de vidas de diversos seres, pode não ser o melhor

Aproveite

Ahhh como adoro frases típicas de auto – ajuda que nos dizem coisas tais como: A vida é uma só, aproveite-a bem! Viva cada momento, cada segundo com intensidade com se este fosse o último, aproveite o tempo que tem para ser feliz! Eu pergunto: Mas o que é isso? A vida é um produto, que deve ser consumido/ aproveitado antes que vença a data de validade? Será que é isso o que querem dizer? E como será que devemos então aproveitar de maneira adequada cada segundo de nossas vidas? Sim, pois a vida esta sendo cronometrada detalhadamente na base dos segundos, devemos nos apressar o quanto antes para nos satisfazer, nos tornarmos felizes. Deveriam mesmo é lançar um manual de como aproveitar bem o resto do tempo que ainda possuímos de vida. Aproveitar o RESTO. Não gastar atoa o tempo que ainda nos SOBRA. Resto... Sobra... A vida é o que? Resto de tempo? Sobra de tempo? A vida é o tempo? Ou o tempo é a vida? Vamos aproveitar... Vamos aproveitar essa coisa que nos move, porque co

Tristeza

Se cada coisa soubesse falar E se a tristeza tivesse vida própria Como se existisse fora daqueles que sabem reconhecê-la Que sabem recebê-la Quem sabe detê-la Que sabem dizê-la Quem sabe vivê-la E quando nos parece invisível Ou mesmo uma luz Uma estrela no céu Mais distante que o céu Lá de cima a brilhar No escuro a chorar No escuro a calar No escuro um alívio Um ponto de fuga Fixado no olhar Só... Somente ela e sua luz A brilhar na imensidão No silêncio No vazio Sem nada mais conhecer Só... Somente ela no topo Aqui em baixo a nos dizer Que está só Veio pra ficar Somente ela e sua luz A brilhar na imensidão

Na corrente deste jogo

Desapareço assim do nada Reapareço assim como quem nada quer Saio de fininho e me esquivo na multidão que me esbarra Observo tudo de longe Como se pudesse repousar no movimento do universo Em silêncio a dançar sob o burburinho Distante a evitar olhares indiscretos Como se me pudesse esconder por trás de uma cortina invisível Privando-me de alheia presença Sem fazer-me notar, nada noto além de mim mesma Envolta a estranhos íntimos e semelhantes Impessoais e acelerados, personagens de si mesmos Eu ponto fixo num sossego desbotado Calado e sufocado assentado na platéia É a estréia do espetáculo a cada dia em que me jogo na corrente deste jogo.