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Mostrando postagens de agosto, 2008

Estrelas

São 23h30min, estou em casa a me arrumar para a Festa. Roupas quaisquer, brincos quaisquer, sapatos quaisquer, mas maquiagem hoje não, o palhaço vai sem máscara. Não pretendo impressionar, quero mesmo é me impressionar, com a festa, com os ritos e universos paralelos. Quero mesmo é ouvir risada barulhenta, gargalhadas que ecoam e destoam do ambiente finesse . Todos olham, giram os olhos e cochicham aos ouvidos. Quero mesmo é apreciar numa taça de aparências a balbúrdia do evento, beberico cada mundo do universo com a sede de um flâneur . Giram luzes coloridas, giram luas fragmento, as estrelas pós- modernas circundando a multidão. O som que nos envolve, nos embala na balada balizando as distinções. O barulho, a batida, bane vazios entre sujeitos que se adjetivam aos sussurros ou aos berros aos ouvidos de quem quer... Quero mesmo é mergulhar em realidades virtuais, em imagens prolongadas de raios refletidos, em sucessões de analogias que se impõe aos indivíduos.

Nós

Sentadas no chão, cúmplices ambivalentes, sussurramos segredos cruéis. Tão pura e crua livre de mim. Sua voz é suave e me encanta. Seu perfume é jasmim, sua presença divina. Ergue em brinde uma taça de vinho, quente, doce, suave, servil... Meu rosto, nas sombras, se esconde do seu, manchado, borrado, pintado, culpado. Devolvo-lhe o brinde num tubo de ensaio, gelado e amargo, abismo absinto. Amável me afaga os cabelos, me deita no colo, compadece. Meus gestos agrestes, implacável me esquivo. Seus olhos tão dóceis procuram suporte, molhados, sinceros. Minha língua afiada te injeta veneno, te expulsa pra longe, te quebra cristal. Te empurro, te excluo, simplória, te amo. Tão longe, estou perto, sou ferro, sou cal. Tão perto está longe, é favo, é terra. Te espero no eterno. Num instante me espere. Para sempre quadradas, redondamente enganadas.

Éder

Correu como um louco até o jardim, o canteiro de flores de cores mui vivas e odores mui fortes, contrastavam com o que se passava por dentro. Seria preciso intervir, sim, pois, ele precisava estender para fora a solidez que se pesava no interior. O ímpeto lhe imputava gestos dramáticos afogados no caos. Arrancou todas elas, nas mãos suas cores amassadas, misturadas e os cheiros achatados, vexados. Suplício! Não suportou a beleza, não naquele momento. Suava e o cheiro era forte, chorava e o gosto era amargo. A terra, foi só o que sobrou, nela deitou-se o cadáver, nela roçou a matéria e forrou-lhe de inércia. Os dedos das mãos esticados, tais como dentes de arado, cravaram o solo e ali ficaram tal qual ferramenta desamparada de braço ceifeiro. Os vermes roíam-lhe as unhas, expelindo excrementos da terra. Despia-se de calor e conforto e os olhos mais nuvens que brilho, jorravam meias – verdades. Da boca, fenda aberta, cavidade errática, escorria saliva espumosa. Ahhhh Éder quão

O Rio de Sangue

Corre um rio, no jardim das profecias, Um rio de águas turvas, nervosas, revoltas. Um rio retesado, no limite, temperamental. Veio extenuado, minguado. Veia rasgada, Lama escarpada, Artéria exaurida, Penetra verdes pradarias, Goteja perene teu sangue à revelia. Filo marginal. Curso retrátil, caudaloso. Líquido viscoso, venenoso. Nocivo, repulsivo. Um rio assombrado pelas almas, Assoreado pelos corpos, Assolado, desolado pela dor. O rio se reflete, se sorve, Regurgita desespero, ânsia. Revolve o pesar, a tristeza, o desespero. Ressentido de tuas águas, do teu plasma, do teu sumo.

Paciência

Rei no topo Base do baralho Dama no rei Entreato do herdeiro Valete na dama Filho prodígio Remate do trio Em concílio real Figuras fadadas Provável projeto de jogadas futuras Êxito esperado em pitadas de sorte e cartadas estratégicas. O jogo, com tempo deslancha ou quem sabe se estagna. Vitória prevista, impulso para uma outra vez. Perda prostrada, ânimo para recomeçar. O jogo é pra valer, desafio entre naipes. Espadas se cruzam, paus em posição, copas prestes a agir, ouros no desfecho do golpe. Cartas na mesa. Reserva no canto à direita. Tablado disposto. Solto as cartas, me entrego ao jogo. Nesta corrente, me embaralho me desmantelo me despedaço. Coringa não entra. Não neste jogo. O bobo da corte está nulo em revés. Paciência, paciência, distrai-me do medo, da angústia e da dor. Porque o jogo não acaba nunca e não sou eu quem o joga, mas sim ele quem me joga. Me move da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, De cima para baixo de baixo para ci

Sentidos

A sensação de caminhar dissimuladamente calma e lenta até você, fingindo-me madura e segura de mim é como uma dor delgada que termina em ponta aguda. Num esforço excessivo ofereço um jeito assim meio displicente ao desejar-lhe bom dia. Aparentemente equilibrada e de certa forma, desdenhosa. Ah... Mas se me pudesse ver por dentro... Uma voz suave que lhe fala aos ouvidos seus desejos mais secretos, assim como uma melodia suave soprando sensualidade no saxofone em tom apaixonado sem limites morais. Como me sobe o sangue à cabeça, deslizando pelas veias, avançando acelerado, me esquentando todo o corpo. Em disparada galopa o coração à medida que vencemos a distância entre nós. Aflitiva respiração falta-me fôlego, mal sei se chego até você. Inadmissível seu olhar a me despir da gélida couraça, quebrando-me em pedaços. Fogo... Faz-me arder dos pés a cabeça, exceto pelo estomago que gela. Quanto de ti me perpassa o pensamento da fração de segundos em que nossos olhares se cruzam

A dama do sono

Amado menino, ente querido, Deite-se logo, venha dormir, Feche seus olhos e venha comigo, Durma bem, durma em paz, Que a nuvem do sono o traga para mim, Venha me siga, Aproxime-se mais, O portão esta aberto! Que estais a esperar? A noite te espera, O bosque tão calmo, o convida a entrar, Seus passos vacilam não temas meu anjo, Entre e desvende, Se embrenhe nos matos, Beba da fonte, que fresca o presenteia, Alimente-se dos frutos, que doces se oferecem, Deixe que as árvores o acolham, Toque suas raízes e deixe que o envolva, Abrace seu tronco e deixe que o enlace, Agarre seus galhos e deixe que o levante, Aspire o perfume de suas flores e deixe que o envolva, Se entregue, se perca, não procure voltar. Puro e inocente me encanta o olhar, Acompanhe incessante o assovio que o chama, Ouça menino, A natureza dos prados, Harmoniosa música, Toca, Pio de coruja Coaxo de sapo Canto da Cigarra e do grilo, em orquestra florestal. Lua cheia, luz difusa. Dançam prate

A Noite

Pesadelos Suores Repentes Suspiros Cama em chamas Angustias rolam pelos lençóis arrancando-os do colchão Maculam o sono sagrado, à espreita do amanhecer. Corpo ondulante, inquieto, Pesado, calado Sussurra, se engasga. Ríspido frio, arrepios na espinha. Ondas de calor, jorros nos poros. Sede Boca Seca Olhos entreabertos Luz fraca a brilhar distante na parede branca Sombras na janela É preciso ir... Brilha cada vez mais e chama: Venha... Venha até aqui... Sombras bruxuleantes dançam madrugada adentro No coração o desejo de ceder ao gozo momentâneo De pé lutando contra si ergue-se o corpo cansado, Se aquece aos primeiros movimentos Passos incertos permeiam o chão preto como piche, se esbarram. Mãos que tateiam o espaço em branco, nada tocam. O amarelo lúgubre cada vez mais próximo dos olhos faz crescer as pupilas. As sombras se arrastam agarradas aos pés da carcaça dormente e invadem-lhe por completo assim que se acende o interruptor. O espelho reflete fu

Harmonia

Fico às vezes a observar quão belo podem ser os fios de alta tensão, tanto que diante deles fico tensa. A magnífica grandeza das passarelas por sobre as avenidas, torna-me tão pequena que chego a me sentir segura. Enche-me os olhos a maravilha das estações subterrâneas do metrô, cujo ruído sonoro do metal junto aos trilhos é verdadeiro deleite aos meus ouvidos. A formosura das chaminés fabris deixa-me febril. Que maravilha ver funcionar as engrenagens do elevador, repletas de rodas dentadas ligadas a um eixo rotativo, são quase que meu eixo central. Há uma arte sincrônica nos sinaleiros das ruas, me incentivando a seguir sempre adiante. Como me apraz tocar os botões dos caixas do banco e ter em minhas mãos o dinheiro da conta. Que beleza ver brilhar os letreiros luminosos que refletem um universo de cores em meus olhos. É incrível o conforto das escadas rolantes, que rolam, rolam e rolam incessantemente enrolando meu dia. Que inveja tenho dos encanamentos de água, das tubu

Sucesso

Tá ai uma coisa que todos esperam. Fazem filas e por ele esperam a vida toda, em tudo que fazem. Como se fosse um ponto final, um resultado feliz. Em geral, sucesso se define numa promoção, seja ela amorosa, financeira, profissional ou espiritual, resultante de uma grande batalha, esforço, dedicação, estudo, perseverança, trabalho ardoroso, dentre outras coisas do gênero. Apesar dos sacrifícios que se faz, dizem valer a pena. O sucesso foi alojado no topo da montanha mais íngreme da cordilheira, poucos conseguem escalar até o fim. O fim é mesmo a palavra mais adequada, pois o sucesso nada mais é que o desfecho de uma história. Todos têm, mais ou menos, uns mais outros menos, idéia do sucesso que pretendem atingir. Sucesso: ascensão, algo de que se possa orgulhar. Olhos alheios se voltam com admiração. Imagem só, nós, ou melhor, você no topo da montanha, petrificado de alegria e satisfação; ali crava bandeiras vitoriosas e dá cabo a mais uma história, dentre tantas outras, n