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Mostrando postagens de maio, 2008

É preciso experimentar

Experimentemos a mudança, pois só assim poderemos penetrar outros corações. Experimentemos de nossas próprias invejas antes de alimentá-las. Experimentemos de nossas próprias ofensas antes de proferi-las. Experimentemos de nossos próprios julgamentos antes de julgarmos alguém. Experimentemos de nossas próprias ciladas antes de pensarmos naquelas que visamos criar. Experimentemos de nossas próprias brutalidades antes de cometê-las sempre que nos convir. Experimentemos de nossas próprias falsidades para refletirmos se iremos praticá-las. Experimentemos de nosso próprio veneno e decidamos se devemos expeli-lo ou não. É preciso experimentar para saber se iremos mesmo gostar e se teremos mesmo prazer. É preciso sofrer o que faremos para os outros sofrerem. É preciso sentir aquilo que faremos com que os outros sintam. É preciso conhecer o mal que pretendemos perpetuar. Mas é também preciso pensar no bem que poderíamos propagar. É preciso experimentar a gentileza que podemos

Réplicas Tétricas

Andam a seguir pessoas, e de longe a espreita, as vêem como presas em potencial. Tome direção à esquerda e lá estão eles. Vire à direita e mais uma vez se depare com os mesmos. Corra e na boca do lobo estarão. Pelos corredores, escadas, elevadores, banheiros, nos odores dos ares farejam seus passos. Observam afastados e no olhar sustentam o brilho do mal. Seguem exalando energia nociva, trucidando reses. Promovem o acaso, e ao cabo do caso escapam ilesos. Por pouco não falam, grunhem sons grotescos. Vibram horror, causam repulsa. De suas peles, expelem suores sebosos emplastrados de medo e desalento. Emitem vapores sulforosos em atmosfera subumana. Suas vitórias são perdas de si. Suas perdas são relatos anônimos. Suas almas são censuras e tarjas, escuras e cruas. Sua fome é réu primário. Sua sede é Rei deposto. Suas vidas são o reflexo do mundo como se passou a acreditar. Seus fantasmas transcrevem traços fechando-nos em círculos anelares. Seus corpos inanimados

Dementes

Reles dementes, Morrem suas mentes, Passos cadentes, Vontades pendentes, Dores dormentes, Sorrisos sofridos, No peito se estampa a culpa, Culpa da qual não tem culpa, Caminha a sombra de impressões de que algo está errado, Áspero anseio! O que será? Poderia ser a chuva na janela, As árvores na calçada, A beleza morta nas flores do floricultor, As luzes de natal, O carro apressado que avança o sinal, O silêncio da noite, O nó na garganta, Os ponteiros do relógio, Os jornais que voam na ventania, As notícias de ontem que se apagam em uma poça qualquer de hoje, As palavras cruzadas, A previsão do tempo, A previsão dos signos, O alinhamento dos astros, Tolas crendices astrais, donas de um destino previsto, por elas lhe é devorado o futuro. Deixe-os crer, mas não decidir no que acreditar. O destino destina-se destemido e revela-se à luz do tempo!

Realidade

Realidade, ó anarquia decrépita. Expele verdades tal qual pus da ferida. Descarada mentira estapeia-me a cara. No correr do dia e ao cair da noite, se diz cumprir o segredo do sucesso! Nada melhor que um jargão porcalhão! A vida é uma festa, então pague o ingresso! Todos a postos, meneia a multidão, Contundida argamassa. Certeza dos fatos, aprazível remédio. Tecnologia em ascendência, Miríade virtual. Bem-vindos senhores e senhoras escancaram-se as portas, Façam de vos nutritivo alimento, Sinto cheiro de carne... Fareja o caçador. Os ardis maquinários, Ornam o espaço e a todos envolve em sutil perversão. Tenazes sujeitos sujeitam-se ao fim, O tempo urge em aguda distorção. Homens formiga, débeis corpos cansados. Desejos dragados, Amálgama universal. Colossal compressor, Humanidade anônima. Ardida chicotada. Poderosa imagética, em esboço amador.